Na sociedade contemporânea, observamos uma crescente fragmentação e desvalorização da pessoa humana e notamos também que as mesmas razões pelas quais o homem se reduz e se fragmenta são os motivos que ele encontra ou projeta um sentido para sua vida. Podemos citar várias dessas razões: o culto ao corpo, o homem como objeto de consumo do capitalismo, pessoas que cada vez mais dão aos seus animais lugares de privilégio a ponto de lhes deixarem heranças milionárias e nada fazem em benefício dos outros da sua espécie, entre outros.
Em nosso século, percebemos que muitas dessas crises ganharam corpo através dos reducionismos, como, por exemplo, a abordagem que Jacques Martin desenvolve em sua obra “Humanismo Integral”. Segundo ele, o materialismo culmina em uma guerra desesperada e um ateísmo radical. Nesse ângulo, são muitos os exemplos que podemos apontar para ilustrar a crescente desvalorização do homem em razão de fatores sociais, ideologias e novas modas que surgem e culminam em problemas como o reducionismo humano, a depreciação da dignidade humana e até mesmo a perda do sentido.
O homem, quando coloca o sentido de sua existência em determinados fins, como os citados no parágrafo anterior, e quando contrariado por eles, se vê frustrado, perde o sentido e termina entrando em crises manifestadas de diversas maneiras. Muitos, infelizmente, se encontram tão desolados que veem o autoextermínio como a única saída. Porém, para Viktor Frankl, somente a busca por sentido concederá ao ser humano a satisfação para a sua vida.
O autor desenvolveu sua filosofia a partir de sua experiência de vida, confinado no campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra. Vivendo naquele ambiente hostil, o filósofo e psicólogo presenciou as maiores atrocidades e o nível mais baixo ao qual o homem pode chegar. Mesmo vivendo nesse local, Frankl atendia seus colegas de confinamento e fazia suas anotações científicas que serviriam de base para sua teoria. Frankl também é conhecido por ser o criador da Logoterapia. Segundo ele, a logoterapia propõe uma reorientação do ser humano para a busca de sentido, que é a principal força motivadora do ser humano.
Na leitura que fizemos de Frankl, encontramos três conceitos antropológicos fundamentais: espiritualidade, responsabilidade e significatividade, dos quais demos ênfase maior no primeiro. A espiritualidade é constituinte fundamental do homem e foi resgatada na psicanálise por Frankl. Segundo Battista Mondin, a espiritualidade reluz em todas as atividades em que o homem auto transcende. Sob esse aspecto, compreendemos também que o termo “logoterapia” adotado por Frankl deriva de “logos” e é compreendido no sentido espiritual, referindo-se à humanidade do ser humano. É a categoria do espírito que confere ao homem a sua dimensão de liberdade.
Através da sua liberdade, o homem opta por suas escolhas, dentre elas as necessidades satisfatórias, necessidade do reconhecimento social e do sentimento de vida. O sentido de vida, como vimos, é um dos pontos em comum entre a filosofia antropológica e a psicologia. O homem, diante das crises, tem a capacidade criativa de se manter vivo. Tal característica é essencial na logoterapia de Frankl. Enquanto abordagem que trata do espírito, ela tem a capacidade de contestar todas as ciências reducionistas do período contemporâneo. Todavia, faz-se necessário ressaltar que a logoterapia não reduz o homem somente à categoria espiritual, mas reafirma essa categoria como parte constitutiva do homem. É a categoria do espírito (noético-pneumático) que confere ao homem a capacidade de ser otimista diante das adversidades e do sofrimento.
Frankl constata que na medida em que o homem se fragmenta ele busca por sentido. Segundo o psicanalista, cada vez mais aumenta o número de pessoas que sofrem por sentirem um vazio existencial. Frankl define a pessoa que vive segundo o espírito como “pessoa espiritual”, isto é, aquela que busca um propósito maior na vida, independente das experiências. Nesse sentido, para o homem contemporâneo, faz-se necessário uma redescoberta da pessoa espiritual como uma alternativa diante da crise, numa psicanálise e numa filosofia que aborde o homem como um ser total, não fragmentado, evitando-se, assim, os riscos dos reducionismos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANKL, Viktor Emil. A falta de sentido: um desafio para a psicoterapia e a filosofia. Campinas SP: Editora Auster, 2021.
FRANKLN, Viktor Emil. Em busca de sentido. Porto Alegre, Sulina, 1987;
FRANKL, Viktor Emil. O sofrimento humano. Fundamentos antropológicos da psicoterapia, Campinas SP: E realizações:2018
FRANKL, Viktor Emil. Sobre o sentido da vida. Tradução Vilmar Schneider. Petrópolis, RJ: Vozes, 2022
FRANKL, Viktor Emil. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo, Aparecida SP: Ideias & Letras, 2005
FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”) e outros textos, tradução Paulo César de Souza. -11 ed.-São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
PETER, Ricardo. Viktor Frankl: a antropologia como terapia. São Paulo: Paulus, 1999
LARRÑAGA, Inácio. As forças da decadência. 2º edição. São Paulo: Paulinas, 2005.
LEITE, Gisele. Os mestres da suspeita. Jures, 2020. Disponível em: https://jures.com.br/artigo-juridico/os-mestres-da-suspeita/ Acesso em 23/10/2023
MONDIN, Battista. O homem quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica. 6º edição. São Paulo: Edições Paulinas, 1980
PEREIRA, Ivo Studart. A ética do sentido da vida: fundamentos antropológicos da logoterapia. Aparecida SP: Ideias e Letras 2013.
VAZ, Henrique Cláudio Lima. Antropologia Filosófica I. 5º edição. São Paulo: Loyola, 1991.
Autor: Paulo de Oliveira Silva- Aluno do 1° ano da configuração.
