No dia 12 de fevereiro de 1867, provenientes do Colégio do Caraça, chegaram os dois primeiros padres Lazaristas, ambos franceses, para trabalhar no Seminário: Pe. Francisco Xavier Bartolomeu Sipolis, para assumir o cargo de reitor, e Pe. Afonso Bec, para auxiliá-lo nos trabalhos. Imediatamente assumiram a direção do Seminário Episcopal São Vicente de Paulo, na Casa do Contrato.
Cinco meses depois, em 19 de julho, os novos formadores e os seminaristas deixaram a velha casa dos contratadores e subiram para a nova moradia no Largo do Curral. Esta data memorável passou a ser considerada como a data da fundação do Seminário de Diamantina. Inicialmente, havia uma casa única – a da frente -, como se pode ver nas fotografias mais antigas. Somente dois anos mais tarde, em 21 de novembro de 1869, foi abençoada e inaugurada a segunda parte, uma nova casa à esquerda da primeira, com cozinha, dispensa e refeitório.
Uma vez que o Seminário já não funcionava na Casa do Contrato, Dom João transferiu-se para lá. Desde então, a histórica casa – construída em 1726 – tornou-se, definitivamente, o Palácio Episcopal. Consequentemente, a Casa da Glória ficou liberada para a imediata instalação do Colégio Nossa Senhora das Dores como educandário feminino, o que ocorreu em setembro de 1867.
Pe. Bartolomeu Sipolis, o 1º reitor do Seminário, tinha sido contemporâneo de Dom João em Mariana, onde tinham estreitado fortes laços de amizade. Sentiam-se ligados interiormente. Tal como Dom João, o Pe. Bartolomeu era profundamente devoto dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Quando deixou o Caraça em direção à nova missão em Diamantina, tinha acabado de construir uma capela em honra do Imaculado Coração de Maria que, por motivos estranhos, logo foi abandonada e demolida pelos seus confrades. O ocorrido causou profundo desgosto no coração do sacerdote.
Nos seus primeiros anos como reitor, depois de um raio ter caído no recreio do Seminário sem ferir ninguém, propôs ao Bispo que o patrono do Seminário passasse a ser o Sagrado Coração de Jesus. E, assim que as condições permitiram, ele quis edificar um templo majestoso dedicado a Ele. O projeto da Igreja foi confiado a seu confrade, o Pe. Júlio José Clavelin, o mesmo que havia projetado e construído a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no Caraça, inaugurada em 1883.
A primeira pedra da Igreja do Sagrado Coração foi solenemente abençoada e lançada por Dom João Antônio no dia 16 de março de 1884. Teve como construtor Antônio Luiz Figueiredo, que também trabalhou na Igreja do Caraça, e como engenheiro o Dr. Catão Gomes Jardim, pai do futuro Arcebispo Dom Serafim Gomes Jardim. Diferentemente da sua construção em honra do Imaculado Coração de Maria, a “eterna prece de pedra” do Pe. Bartolomeu elevada ao Divino Coração estaria destinada a durar pelos séculos como súplica e esperança de que nunca há de faltar ao rebanho diamantinense “pastores segundo o coração de Jesus”.
A grande devoção do Pe. Bartolomeu ao Sagrado Coração não era algo simplesmente externo, mas lançava raízes no seu próprio caráter. Ele era conhecido como um homem de coração bom, “manso e humilde”. Por volta de 1861,quando foi disciplinário no Colégio do Caraça, seus confrades queixaram-se dele ao Superior porque a “disciplina bambeara um pouco por causa da sua bondade proverbial”.
Pe. Bartolomeu foi também o construtor e o fundador da Chácara dos Padres, a residência dos Lazaristas Missionários. Fundou ainda a Guarda de Honra, a Confraria do Coração de Maria e as Filhas de Maria. Traduziu livros, compôs a Lira da Guarda de Honra, tendo como modelo a edição francesa. Começou o cultivo da uva e a produção de vinho.
Em 1886, depois de 19 anos como reitor, o Pe. Bartolomeu Sipolis foi transferido para o Rio de Janeiro para assumir a função de Provincial da Congregação da Missão.
Pe. Miguel era um intelectual reconhecido e muito respeitado como helenista e latinista. Como bom teólogo que era, foi representante de Dom João Antônio dos Santos no Concílio Vaticano I, em 1870. Gozava da estima do Dr. Afonso Pena, que foi Governador de Minas e o 4º Presidente da República e que havia sido seu aluno no Caraça, assim como outras tantas personalidades. Pe. Miguel era um grande observador da natureza, cuja riqueza conseguia abraçar com uma v isão poética. Amava orquídeas e bromélias e era profundo conhecedor da fauna e da flora. Inclusive, no museu botânico de Paris há uma planta nativa da região do Pico do Itambé que recebeu o nome de Sipolisia por ter sido catalogada por ele.
Pe. Miguel era um intelectual completo. Não obstante seus longos anos dedicados à formação como reitor do Caraça, do Seminário de São José, no Rio de Janeiro, e do Seminário de
Diamantina, foi sempre recordado entre os seus confrades como um grande missionário: “o doutrinador das turbas, ídolo das multidões, o apóstolo de Minas”. Existem relatos de grandes conversões ocorridas nos seus 40 anos de trabalho missionário. Para os seus confrades educadores, ele era “mais doutrinador do que educador”. Consideravam que lhe faltava o mesmo que ao seu irmão, Pe. Bartolomeu: firmeza e rigidez. Seu carinho, sua paciência e seu sorriso traíam radicalmente os métodos pedagógicos daquele tempo. Parece que “a bondade proverbial” era uma ‘fraqueza’ dos irmãos Sipolis. Pe. Miguel também foi criticado pelos confrades mais rígidos por não ser muito pontual. Frequentemente atrasava suas aulas para atender algum penitente ou simplesmente pelo prazer de uma boa conversa. E quando chegava na sala de aula tinha sempre a tendência a contar os causos mais curiosos relativos às suas missões. E sua palavra era, sobremaneira, envolvente.
Coube ao Pe. Miguel Sipolis levar a termo a construção da Igreja de Pedra, o que ocorreu no final de 1889. Ele ornou a igreja com belíssimas imagens francesas e ricos paramentos. Um desses belos paramentos – uma casula romana ricamente bordada com a imagem do Sagrado Coração – continua sendo conservado e usado, com reverência, na Igreja do Seminário, pois foi usado por Dom João Antônio na solene liturgia ocorrida na manhã de 06 de janeiro de 1890, em que foi consagrado o magnífico templo neogótico.
Curvado pelo peso dos anos, Pe. Miguel faleceu no dia 18 de novembro de 1893. Foi velado na Igreja do Seminário e em seguida inumado na sua cripta, ao lado do seu confrade Pe. Afonso Bec, que havia morrido em 1887 e era, até então, o primeiro e único dos muitos filhos de São Vicente cujos ossos ali repousavam, “esperando a gloriosa vinda do Senhor”.
Segundo o parecer do Pe. Gaspar Cordeiro, a diferença entre os dois irmãos Sipolis era que “o Pe. Bartolomeu era um construtor, e o Pe. Miguel era um intelectual”. Os dois irmãos, portanto, se completavam, de modo que o Seminário diamantino, desde as suas origens, ergue-se como uma construção esmerada tanto do ponto de vista arquitetônico como do ponto de vista humano e espiritual. O trabalho dos irmãos Sipolis, unidos profundamente aos ideais de Dom João Antônio, transformaram e ampliaram os horizontes de Diamantina e da região.
Foi também, no primeiro ano da reitoria do Pe. Berardini, em 14 de dezembro de 1894, que, para alegria de todos os seus membros, o Papa Leão XIII elevou a Confraria da Guarda de Honra do Sagrado Coração a Arquiconfraria. Em junho de 1903, Pe. Berardini foi transferido para a Casa
Pe. Lacoste morou 30 anos em Diamantina. Este tempo de permanência na cidade só não superou o Pe. Gaspar Cordeiro, que ultrapassou os 36 anos. O féretro do Pe. Lacoste foi acompanhado por uma multidão reconhecida e sepultado no cemitério da cidade.
Com o seu grande apoio, Dom Joaquim fundou, em 06 de maio de 1909, a Associação de São José para Obra das Vocações Sacerdotais (OVS). Com seu zelo pelas vocações, o Bispo conseguiu imprimir, de forma indelével na vida espiritual dos seus fiéis diocesanos, a consciência de rezar e zelar pelas vocações ao sacerdócio: “Dai-nos, Senhor, numerosos e santos sacerdotes. Tantos que nos bastem. Tão santos que sejam dignos do altar!”.
Para descontentamento geral, na reitoria do Pe. Deschand, em5 de abril de 1911, foi promulgada a Lei Rivadávia Correa, de inspiração positivista, que suprimiu a Equiparação do Seminário a Colégio. O curso do Seminário deixou de ser reconhecido civilmente. Para compensar o descontentamento, naquele mesmo ano, o Seminário bateu o recorde na produção de vinho. Produziram-se 20 mil garrafas e o vinho foi muito apreciado pelos especialistas. Também no mês de dezembro, foi instalada a luz elétrica no Seminário, que no ano anterior, 1910, tinha chegado na cidade. Para corroborar o ímpeto do progresso, em meio à grande festa, foi inaugurada a Estrada de Ferro, no dia 3 de maio de 1914. Em 13 de junho do mesmo ano, Pe. Deschand deixou o cargo por motivo de saúde, partindo, já pela linha férrea, em direção ao Rio de Janeiro.
Na sua ausência, a reitoria foi assumida pelo Pe. Antônio José dos Santos, mineiro de Cachoeira do Campo, que mais tarde, em 19 de outubro de 1919, foi sagrado Bispo Auxiliar de Diamantina, função que exerceu até 1929 quando foi nomeado primeiro bispo de Assis – São Paulo. Foi na sua reitoria de interregno, em 28 de junho d e 1917 , que a Diocese foi eleva d a a Arquidiocese, o que foi motivo de grande comemoração. Naquele mesmo ano, celebrava- se o jubileu de 50 anos do Seminário. Por motivo de força maior, a grande comemoração ocorreu no dia 8 de dezembro. Na manhã daquele dia, a m i s s a solene foi cantada p elo cônego diamantinense Manuel Alves Pereira, que tinha ingressado no Colégio do Caraça em 12 de maio de 1866 e que fez parte da primeira turma do Seminário de Diamantina. O dia encerrou-se com um festival dramático em três atos intitulado “São Venâncio”.
Pe. Peroneille regressou ao Brasil e reassumiu a reitoria somente em março de 1918, chegando a tempo de preparar a ilustre visita do Sr. Núncio Apostólico Dom Angelo Scapardini, que ocorreu em 15 de junho de 1918. A primeira visita do representante do Papa em Diamantina foi uma grande festa e rendeu ainda uma grande alegria: com a bula de 10 de dezembro de 1920, a Santa Sé aceitou o pedido de Dom Joaquim para que se desse à Igreja do Seminário o título de Basílica Menor. No dia 3 de abril de 1921, realizou-se a inauguração da Basílica, mas somente em 1º de julho de 1922 chegaram as suas insígnias: a “umbrella” com as cores do antigo senado romano, o campanário e o escudo para a porta de entrad a. No dia 19 d e julho d e 1922 , encerramento do retiro do clero, Dom Joaquim presidiu a grande solenidade de instalação da Basílica. Foi a primeira Igreja de Minas Gerais a receber o título de Basílica Menor e a terceira do Brasil. Realizou-se assim, na expressão do Mons. Gabriel Amador dos Santos, o “sonho dourado do Revmo. Pe. Bartolomeu Sipolis, o saudoso apóstolo do Sagrado Coração de Jesus”.
Em novembro de 1922, Pe. Peroneille terminou a sua missão como reitor. Sua memória, porém, permaneceu viva sobretudo naqueles que foram destinatários da sua reconhecida benevolência. Um dos beneficiados por ele com “alívio financeiro” nas mensalidades foi o aluno Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que estudou no Seminário de 1914 a 1917. Como gesto pessoal de gratidão, no dia 19 de julho de 1950, o Presidente JK condecorou com a Ordem do Mérito o seu velho benfeitor, o Pe. Vicente Peroneille.
Pe. José Ferreira permaneceu em Diamantina por pouco tempo, partindo no início de 1931.
No dia 05 de março de 1932, o Seminário, em obras, recebeu a segunda visita de um Núncio Apostólico, Dom Aloisio Masella. No ritmo das festividades da acolhida do representante do Papa, no dia 19 de março de 1932, foi abençoada e lançada a primeira pedra da nova Catedral. A demolição destes dois símbolos máximos da Arquidiocese, n a t u r a l m e n t e , causou impacto e desagradou a muitos. Um dos alunos antigos do Seminário, Paulo Krüger Corrêa Mourão, lamenta: “Nós, que fomos alunos na década de 191 a 1920, temos a lastimar o desaparecimento da velha Sede. Melhor fora restaurá-la do que, com impiedosa picareta, demolir as vastas acomodações, tão cheias de recordações do vetusto estabelecimento!”.
Do mesmo modo, alguns diamantinenses lamentavam profundamente a demolição da Sé antiga e, em forma de protesto, não entravam na nova Catedral. No dia 30 de agosto de 1933, porém, o “anjo de Diamantina” como Dom Joaquim foi chamado pelo seu Bispo Auxiliar , Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota – voltou à casa do Pai, deixando demolidos o seu Seminário e a sua Catedral. Coube ao seu sucessor a responsabilidade de reconstruir estes dois símbolos mais importantes da Arquidiocese. A responsabilidade caiu em boas mãos. No dia 1 de novembro de 1934, o então Bispo de Araçuaí, Dom Serafim Gomes Jardim , oriundo do clero diamantinense, tomou posse como novo Arcebispo. O reitor do Seminário, Pe. Egídio, colaborou com Dom Serafim por pouco mais de um ano, permanecendo como reitor do Seminário até o dia 22 de janeiro de 1936, quando partiu.
Dom Serafim pode contar com o grande empenho do Pe. Avelar, não só na construção do novo prédio do Seminário, mas em várias outras obras. Em 1937, ele fundou a Tipografia do Seminário, no andar térreo. A partir de então, vários “jornaizinhos” foram publicados no Seminário: O Boletim da Guarda de Honra; O Congregado Mariano; O Anchieta; O Cordeiro; O Lírio; O Divertido; A Messe.
Pe. Avelar reconstruiu o teatro e passou para três o número de apresentações anuais. Restaurou a banda de música adquirindo novos instrumentos. Em 1943, fundou o salão de festas Visconde de Cairú. No mesmo ano, concluiu o novo prédio do Seminário Maior, com três andares, situado imediatamente à esquerda da Basílica e ligado à sua sacristia por um pequeno passadiço. O prédio construído pelo Pe. Avelar é mais antigo, atualmente.
A fim de oferecer um espaço de lazer e de esportes aos seminaristas, dispondo de suas próprias economias, Dom Serafim ajudou na realização do campo de futebol no fundo da casa. Em sinal de gratidão, Pe. Avelar pôs ali uma placa com a inscrição: “Estádio Dom Serafim”. Ao lado, Pe. Avelar fez também uma quadra de basquete, que passou a ser chamada de “Quadra Pe. Avelar”. A reitoria do Pe. Avelar confirmou a sua fama de ser alguém que não perdia tempo. Em março de 1945, ele foi nomeado Vigário da Paróquia de São José, no Calafate, em Belo Horizonte. O Padre, querido por todos, partiu, sem conter as lágrimas.
Menos de um mês após a partida do Pe. Manuel Carlos, no dia 8 de fevereiro, todos tomaram um grande susto: a construção da extremidade esquerda do Seminário, que já estava quase terminada, desabou. A causa foi infiltração de água nas paredes e lajes por causa das muitas chuvas naquele período. Dois operários ficaram feridos. Apesar do susto, os padres da Casa celebraram em ação de graças pelo fato de não ter causado nenhuma morte. A julgar pela proporção do ocorrido, poderia ter sido muito pior!
No dia 9 de maio de 1953, a Providência Divina, que governa tudo, trouxe ao Seminário o Governador de Minas, D r . Juscelino Kubit s check. Ele, que nunca dei xou de reconhecer-se beneficiado pelo Seminário, agora se tor naria um dos seus maiores benfeitores. Com a ajuda do governador, foi possível concluir a construção da parte esquerda e, em 1954, construir a entrada principal do Seminário, tal como se vê hoje: imponente e acolhedora; capaz de introduzir não só num espaço físico, mas na gloriosa história que este espaço alberga.
No ano seguinte, 1955, Dom José Newton, recém-chegado como Arcebispo, melhorou a portaria, fazendo uma calçada de cimento, colocando bancos e refazendo os jardins. Mandou plantar algumas mudas que trouxe, pessoalmente, de Assis – Itália. A reitoria do Pe. Pires foi muito frutuosa. Sob sua direção ocorreu a aplicação de uma novidade litúrgica: no dia 13 de dezembro de 1953, começaram as missas vespertinas no Seminário. O reitor estava indo muito bem quando, no dia 15 de janeiro de 1956, uma manhã de domingo, caiu morto ao pé da escada térrea do prédio do Seminário Maior.
Havia completado 54 anos no mês anterior. Até hoje, ao pé da escada, uma placa de homenagem recorda o triste fato. Um dos padres que o encontrou caído fez uma observação que se imortalizou entre seus confrades: “Seus óculos estavam caídos de lado porque no céu não precisaria mais deles”. Dom José Newton celebrou o rito de exéquias, e o Pe. Pires foi sepultado no cemitério municipal, na tarde do mesmo dia.
Era poeta e romancista de grande valor. Logo nos primeiros meses da sua reitoria, aconteceu a II Semana Ruralista, iniciativa de Dom José Newton que reunia grandes personalidades para conferências e reuniões em torno da questão agrária. No dia 9 de julho de 1956, a Semana contou com a honrosa presença do então Presidente da República, Dr. Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Aproveitando o ensejo, o Presidente foi convidado para presidir o lançamento da pedra fundamental da parte direita do prédio – onde hoje funcionam a Biblioteca e o dormitório da Filosofia – e das novas alas do Seminário, que contariam com a sua preciosa ajuda. Na ocasião, sua esposa, Dona Sara Kubitscheck, doou ao Seminário a sua cozinha modelo, conservada ainda hoje. Assim, o Seminário assumiu a forma arquitetônica atual.
Já em 1957, com o pesar de todos, Pe. Belchior Neto foi transferido para o Seminário da Prainha, em Fortaleza – Ceará. Ali, três anos depois, recebeu a notícia de sua nomeação episcopal e, no dia 24 de abril de 1960, foi ordenado Bispo coadjutor de Luz, para amparar e suceder o velho Dom Manuel Nunes Coelho, ex-aluno do Seminário e pertencente ao clero de Diamantina, que havia sido sagrado primeiro Bispo de Luz por Dom Joaquim, na Basílica do Seminário, no longínquo 14 de julho de 1920.
Como testemunha, o Pe. Zico Tobias, Lazarista e irmão de Dom Belchior, fala no seu livro Congregação da Missão no Brasil que a tensão começou já em 1961, quando, numa homilia de ordenação na Basílica do Seminário, Dom Sigaud havia condenado ferrenhamente a teologia francesa, nomeadamente os teólogos Yves Congar e Henri d e Lubac, causando assim um grande desconforto entre os padres Lazaristas que, em grande parte, tinham formado-se na França segundo este espírito. Dom Sigaud, percebendo que a formação do Seminário de Diamantina inclinava-se para a “nova teologia”, recrutou oito seminaristas ligados à Tradição, Propriedade e Família (TFP) com a missão de serem, entre os outros seminaristas, como o “fermento na massa”.
Também determinou que o reitor favorecesse a circulação do jornal Catolicismo, fundado em 1951 por Dom Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, no Rio de Janeiro, e onde o Dr. Plínio Correia de Oliveira expunha suas posições. Junto com a TFP, Dom Sigaud assumiu o combate contra o comunismo, que considerava um “regime inventado por Satanás”, como anuncia o seu Catecismo Anticomunista de 1963. Essas atitudes criaram muitas tensões entre alguns seminaristas e os formadores.
A tensão, porém, chegou ao ápice nos meses de abril e de maio de 1964. Tendo ocorrido a revolução militar em 31 de março de 1964, o Arcebispo determinou que os seminaristas fossem receber com festa a tropa do 3º Batalhão da PM que chegava na Praça da Estação. Porém, alguns seminaristas maiores receberam os militares com manifestações contrárias. Outros, mais radicais, rasgaram batinas velhas e penduraram nas janelas do Seminário em sinal de luto. Para piorar ainda mais a situação, Dom Sigaud foi informado de que havia chegado ao Seminário uma carta cujo remetente era o Pe. Francisco Lage, Lazarista revolucionário que, no ano seguinte, seria preso, torturado e exilado no México. A este ponto, o Arcebispo permitiu que seis policiais militares acompanhados pelo Vigário Geral, Mons. João Tavares de Souza, fizessem uma investigação no Seminário. Vasculharam os quartos, as gavetas, a biblioteca, procurando livros, cartas ou qualquer evidência de simpatia comunista.
Com este episódio, a relação entre os padres do Seminário e o Arcebispo ficou insustentável. Dom Sigaud já havia solicitado ao Provincial, o Pe. Montalvão, a substituição de alguns padres do Seminário, mas o pedido tinha sido negado. Quando, revoltado com a investigação feita no Seminário, o reitor, Pe. Campos, foi ao Palácio queixar-se com o Arcebispo, recebeu dele a ordem de que todos os padres deveriam deixar o Seminário o quanto antes. Para isso, foi necessário adiantar os exames e as férias em 15 dias. De modo que, no dia 15 de junho de 1964, os seminaristas e os padres Lazaristas despediram-se, entre lágrimas, na porta da Basílica. E no dia seguinte, os 14 padres Lazaristas deixaram o Seminário. Logo os padres missionários da Chácara também deixaram a cidade. A população diamantinense ficou consternada. Muitos amigos dos padres já preparavam a programação do centenário da presença Lazarista em Diamantina.
Para reforçar a mágoa dos filhos de São Vicente, alguns dias depois da saída deles, o Vigário Geral, Mons. Tavares, fez o solene rito de exorcismo do prédio do Seminário, percorrendo seus espaços incensando e aspergindo água benta. E ainda mais: no mês seguinte, julho, no retiro que começou no dia 10, os 59 padres do Clero diamantinense assinaram um termo de obediência ao Arcebispo e de apoio às suas d e cis ões com resp ei to ao s La z aris t a s. Profundamente ressentido, o Pe. Tobias escreve: “Essa foi a paga dos 98 anos de trabalhos e sacrifícios no Seminário e dos 80 anos das missões em Diamantina”.
Após esses acontecimentos, o Pe. Campos, último dos reitores Lazaristas, foi estudar Sagrada Escritura na Itália e na Terra Santa. Mais tarde, foi professor na PUC-Minas, em Belo Horizonte, e décadas depois, voltou ao Seminário de Diamantina como professor de Sagrada Escritura. Faleceu em Belo Horizonte, em 12 de janeiro de 2014. Encerrava-se assim, de forma traumática, a “era dourada” do Seminário de Diamantina. O nível de formação intelectual e cultural era admirável. O quadro dos padres professores era de ótima qualidade e de caráter multinacional. Nos 97 anos de presença Lazarista, além dos congregados brasileiros, passaram pelo Seminário padres francês em, italianos, portugueses, holandeses, alemães, espanhóis, austríacos, suecos, belgas e até um argelino e um persa. Eram tipos muito diferentes, pela cultura, idade e língua, mas unidos no trabalho incansável na formação dos futuros sacerdotes.
Na realidade, os fatos narrados devem ser interpretados em horizontes mais amplos. Trata- se do fim de uma era ou, na expressão em voga, de uma “mudança de época” não só no horizonte do Seminário de Diamantina, mas no horizonte geral da história e, consequentemente, da história eclesiástica. Celebrado naqueles anos, o Concílio Vaticano II (1962-1965) foi a clara expressão desta realidade: a Igreja já não podia fechar os olhos diante dos “novos sinais dos temp os”. Como em todos os Concílios Ecumênicos da história, a aula conciliar foi o lugar de uma síntese profundamente tensa, porém, harmoniosa entre o progresso e a tradição. Para alguns grupos, o Concílio Vaticano II foi vivido como um campo de batalha, onde o posicionamento contraposto era visto como um inimigo a ser derrotado. Estes pequenos grupos unilaterais salientavam não o positivo que comuna e unifica, mas o negativo que separa e divide. Infelizmente, os germes dessa mentalidade espalharam-se pelos anos pós- conciliares e, inoportunamente, têm ganhado espaço nos dias de hoje.
Renasce sempre, com pretensão de jovialidade, a velha tentação do unilateralismo radical que, neste caso, toma forma de enfrentamento entre progressistas e tradicionalistas, ambos grupos vítimas do mesmo vício deplorável: o “espírito de negação” típico da dialética moderna. Era uma convulsão histórica e eclesial que ganhava uma fisionomia concreta no Seminário de Diamantina. Em parte, deve-se reconhecer que as estruturas e a pedagogia dos seminários já não respondiam muito bem às necessidades da nova época. Todavia, só é justo e responsável demolir uma estrutura ultrapassada quando se possui os meios para construir uma melhor. E naquele momento histórico nada era muito claro. Para alguns, erroneamente, nada deveria mudar, para outros – postura não menos errônea -, tudo deveria mudar.
A síntese mostraria-se mais difícil do que parecia à primeira vista. Na verdade, estava só começando o período de uma crise generalizada que tomaria também aspecto vocacional e sacerdotal e que se estenderia até o final da década de 1970.
Os motivos que os fizeram deixar o Seminário são ignotos. Supõe-se que S. Exma. Revma. Dom Geraldo de Proença Sigaud, digníssimo Arcebispo desta cidade, não ficou de acordo com a formação proporcionada pelos Srs. Padres Lazaristas e, por isso, resolveu dispensá-los. Em seu lugar colocou os Padres da sua Arquidiocese, ou seja, os Padres seculares.” E acrescenta, não sem ironia: “Durante os oito primeiros dias, por descontrole dos formadores, não houve aula.” A grave responsabilidade de ser o primeiro reitor oriundo do clero diocesano e de tentar harmonizar o ambiente conflituoso coube ao Pe. Paulo Vicente de Oliveira, natural de Materlândia
-MG, que assumiu a reitoria em 1º de agosto. Pe. Paulo Vicente foi transferido da Paróquia de Santo Antônio de Curvelo, onde havia chegado há pouco, vindo de Pirapora. Nesta cidade, tinha fundado o Colégio São Batista, que dirigiu por 14 anos. Pe. Paulo Vicente era reconhecido como um grande pedagogo e excelente mestre de disciplina. Segundo relatos de seus ex-alunos, além dos costumeiros “cascudos” e dos habituais murros na mesa, no ímpeto da raiva, literalmente, chegava a “espumar pelo canto da boca”. Ele sabia, porém, unir os castigos aos prêmios e as correções às manifestações de confiança. Pe. Paulo Vicente, suaviter et fortiter, foi, sem dúvida, uma boa escolha de Dom Sigaud para o Seminário, naquele momento.
Além de manter rigorosamente a disciplina, Pe. Paulo Vicente dedicou-se a melhorar as estruturas e o acabamento do Seminário. Refez as instalações elétricas, de telefone e de água, assim como várias partes do piso que já estavam danificadas. Trocou as carteiras dos estudantes e os móveis do refeitório. Esforçou-se para manter o nível da formação dos padres Lazaristas e conseguiu, como testemunha a comemoração do seu aniversário em 1966, quando foi homenageado pelos seminaristas com músicas clássicas executadas pela banda do Seminário e pela sua Schola Cantorum e com discursos feitos pelos alunos em oito línguas: latim, grego, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol e esperanto.
Pe. Paulo Vicente deixou o Seminário no final de 1971 para assumir a diretoria do Colégio Padre Curvelo, na cidade que traz este nome.
Mons. Otacílio reformou o “Estádio Dom Serafim” construído na reitoria do Pe. Avelar e que tinha sido abandonado, trabalhando pessoalmente e com os seminaristas. O campo foi alargado e nivelado. Plantou os eucaliptos, vistos ainda hoje, para impedir que a bola caísse no terreno dos vizinhos. Sua humildade, conhecida por muitos, era tanta que todas as vezes que se referia ao tempo do seu reitorado narrava somente os fatos que o humilharam. Recordava, sobretudo, como os seminaristas conseguiam que ele caísse sempre em suas armadilhas, principalmente naquelas de caráter intelectual. Mons. Otacílio não tinha a sagacidade do Pe. Paulo Vicente. Aquele era “simples como as pombas”, este era “prudente como as ser pentes”. Ambos, verdadeiros homens evangélicos!
Mons. Otacílio é também recordado pelos seus seminaristas como um tipo muito econômico. Sob seu comando, vigorava no Seminário uma lei radical de economia. E não que para a Arquidiocese fosse um “tempo de vacas magras”. Ao contrário. Quando, em 1969, Dom Sigaud teve clareza de que a TFP continuaria resistindo às reformas do Concílio Vaticano II, sobretudo à reforma litúrgica, afirmou, como um verdadeiro homem da Igreja, que questionava e discutia as mudanças até no momento em que o Papa aprovava o documento; depois, simplesmente, acatava e obedecia. Ele alertou, abertamente, a Dom Antônio de Castro Mayer, que continuava manifestando-se contrário às reformas, do perigo de romper com a unidade da Igreja. Sua voz, porém, não foi ouvida.
O rompimento foi dando-se lentamente, mas aconteceu. Em 2 de dezembro de 1986, Dom Marcel Lefebvre e Dom Castro Mayer declararam: “A ruptura não vem de nós, mas de Paulo VI e João Paulo II, que rompem com seus predecessores. (…) Por isso, consideramos como nulo tudo o que foi inspirado por este espírito de negação: todas as reformas pós-conciliares e todos os atos de Roma realizados dentro desta impiedade”. A ruptura declarada se deu, na prática, no dia 30 de junho de 1988, quando os dois sagraram quatro bispos ilegalmente, ou seja, sem o mandato do Papa, caindo em excomunhão imediata. Perpetuando a separação, em 21 de julho de 1991, foi sagrado Bispo, também sem mandato pontifício, Dom Licínio Rangel, que tinha sido um dos seminaristas recrutados com a missão de ser “fermento na massa” em Diamantina. Dom Licínio voltou à comunhão com Roma em 2001. A excomunhão da Fraternidade São Pio X, em 24 de janeiro de 2009, foi suspensa pelo Papa Bento XVI, na tentativa de uma reconciliação.
Com sua visão ampla e profunda, Dom Sigaud anteviu aquilo que mais tarde aconteceu. E por isso, já na segunda metade da década de 1960, percebeu que tinha chegado a hora de dispensar do seu Seminário os seminaristas tradicionalistas que ele mesmo havia recrutado anteriormente. No seu Seminário não havia lugar para extremistas: nem para progressistas nem para tradicionalistas. A este ponto, o Arcebispo de Diamantina, que não era amado por aqueles que tendiam à uma visão progressista, passa a ser malquerido também pelos tradicionalistas.
Em 1970, Dom Sigaud rompeu brusca e definitivamente com a TFP, com Dom Castro Mayer e Dom Marcel Lefebvre. A partir de então, evitando entrar em querelas teológicas, direcionou todas as suas energias ao empreendedorismo. Fundou e presidiu a Reflorestadora Alto do Jequitinhonha, que a partir de 1973 chegou a plantar 10 milhões de pés de eucalipto por ano. Para a manutenção do Seminário, adquiriu uma fazenda no Córrego do Feijão, município de Serra Azul de Minas, com criação de gado e produção de queijo, como também um sítio na Bandeirinha (1969),
Diamantina, com o lugar de lazer dos seminaristas e padres e de plantação de maracujá, fabricação e comercialização de suco. Realizou outros tantos empreendimentos, mas, infelizmente, mais tarde, todos foram abandonados, vendidos ou repassados. Naquele tempo, portanto, do ponto de vista econômico, a Arquidiocese de Diamantina tornou-se muito estável. Apesar do caráter muito econômico do reitor Mons. Otacílio, não era “tempo de vacas magras”.
Em 1973, Mons. Otacílio deixou o Seminário e partiu para assumir a paróquia de São João Batista, em Itamarandiba. Nos últimos anos de sua vida, voltou a residir no Seminário, marcando uma geração de seminaristas com sua personalidade simples e equilibrada. No dia 29 de outubro de 2014, no Seminário, ele entregou sua alma a Deus aos 96 anos de idade e 65 anos de sacerdócio. Foi velado na Basílica do Sagrado Coração. Depois da missa de exéquias, presidida pelo Arcebispo, Dom João Bosco, o seu féretro foi acompanhado até o cemitério municipal de Diamantina, onde foi sepultado.
Dom Sigaud, com seu enérgico zelo, trabalhou na aplicação das reformas conciliares. Organizou no Seminário vários cursos catequéticos; encontros com grupos de jovens e com as conferências vicentinas, como o Movimento do Cursilho de Cristandade e outros movimentos. Os próprios seminaristas estranharam a movimentação dos leigos e a consequente partilha dos seus espaços com eles. O cronista da época, de caráter bastante cômico, apresenta a impressão dos seminaristas sobre os jovens que se formavam: “Parece-me que os resultados estão sendo satisfatórios. Perguntando a rapazes e moças sobre o caminho que leva a Deus, responderam-me bem. Todavia, o que me faz refletir é ouvir, sobretudo de moças, isso: ‘Tenho vontade de ser padre!’ E falam sérias!”. Era uma época de muitas mudanças…
Naquele período, o número dos seminaristas caía bastante, sobretudo o número de alunos do Seminário Menor. De modo que se tornou muito dispendioso manter o quadro de professores para um grupo pequeno. Por isso, em 1976, Dom Sigaud decidiu que os seminaristas menores começariam a estudar fora do Seminário. Os do primeiro grau foram estudar no Colégio Tiradentes da Polícia Militar e os do segundo grau, no Colégio Diamantinense, que pertencia à Arquidiocese.
No fim de 1976, o Pe. Elair renunciou ao cargo de reitor. Atualmente é pároco emérito da Paróquia de São Sebastião de Sabinópolis, que pertence à Diocese de Guanhães, a última diocese a ser desmembrada da Arquidiocese de Diamantina. Com 87 anos, ele é, dentre os vivos, o reitor mais antigo.
Pe. Gusmão tomou posse do Seminário na noite de 15 de maio de 1977, recebido por todos com cantos e festas. Não obstante a recepção alegre, a situação que o reitor encontrava era preocupante. Se do ponto de vista econômico tudo ia muito bem, do ponto de vista humano era “tempo de vacas magras”. Em geral, no mundo inteiro sentia-se o drama da queda no número dos seminaristas e dos padres. Só na década de 1970, segundo fontes vaticanas, 15.979 padres diocesanos deixaram o ministério. O número, porém, deve ter sido maior. O Papa Paulo VI sofria demasiado com essa realidade. Falando ao Clero de Roma em fevereiro de 1978, último ano de sua vida, disse: “As estatísticas nos constrangem; a casuística nos desconcerta; as motivações, sim, impõem-nos respeito e nos movem à compaixão, mas nos causam uma dor imensa; a sorte dos débeis que encontraram forças para desertar de seu compromisso nos confunde”. Foi um período realmente crítico!
O Seminário de Diamantina vivia também a sua crise. O cronista do Seminário expressa a queixa dos seus colegas seminaristas de que “o Seminário está perdendo terreno” em todos os campos. No campo intelectual era sintomática a dissolução da Academia Santo Tomás de Aquino e a do Grêmio Literário São Luiz, cuja última reunião havia acontecido no fim de 1976. No campo espiritual sentia-se o desaparecimento da Congregação Mariana do Seminário Maior e a do Menor. No campo cultural lamentava-se o fim da banda de música do Seminário, que era magistralmente regida pelo Pe. Raimundo Lisboa, e da Schola Cantorum. O papel desempenhado pela Schola Cantorum do Seminário nas celebrações solenes na Catedral passou a ser ocupado pelo Coral Bem-Te-Vis, fundado em 1975 e regido – trágica e vergonhosamente! -por João Marcos Porto Maciel, conhecido, naquele tempo, como Irmão Marcos. No campo vocacional, além da queda no número dos seminaristas, assistia-se ao enfraquecimento da OVS, cujo trabalho de ajuda na manutenção econômica do Seminário pareceu desnecessário diante da rede de benfeitores da Alemanha que Dom Sigaud havia organizado.
Para tristeza de todos, com carta datada de 06 de novembro de 1978, Dom Sigaud comunicou a extinção, a partir do ano seguinte, do primeiro grau no Seminário, o chamado curso ginasial. E mais ainda: a partir de 1979, por causa do pequeno número de alunos, a Teologia deixou de funcionar no Seminário de Diamantina e os seminaristas teólogos foram enviados ao Seminário de Mariana. Restou somente do Seminário Menor o segundo grau e do Seminário Maior, a Filosofia, somando 23 seminaristas. Nunca, ao longo de toda a sua história, o Seminário esteve tão pouco habitado.
Pela primeira vez, portanto, havia muitos espaços ociosos. Por isso, decidiu-se alugar uma parte do prédio. Em 04 de abril de 1979, instalou- se na ala mais nova – onde hoje funciona a Biblioteca e o dormitório da Filosofia – a 5ª Delegacia Regional de Ensino. Para que o velho sino do Seminário não incomodasse os funcionários da Delegacia de Ensino, o reitor, Pe. Gusmão, mandou instalar uma campainha elétrica nas dependências do Seminário Maior, no prédio “do Pe. Avelar”. Naquele 04 de abril, o cronista anota o fato e lamenta: “Hoje foi o último dia em que se tangeu o nosso velho bronze, chamando para a oração, missa, almoço, etc… Como as coisas estão mudando de figura… Mas, é isso mesmo!…”
Diante deste quadro preocupante, os padres do Seminário tomaram consciência da necessidade urgente de organizar uma pastoral vocacional. O primeiro grupo dedicado a esta pastoral foi fundado no dia 12 de março de 1979, tendo como seu primeiro coordenador o então diácono José Aristeu Vieira, atualmente Bispo Diocesano de Luz. No mês de agosto daquele ano começaram as novenas vocacionais, e no segundo semestre, os primeiros encontros vocacionais. Foram várias as iniciativas no intuito de fomentar uma cultura vocacional e estimular a oração da comunidade pelas vocações sacerdotais e religiosas.
No ano de 1980, a primeira visita do Sucessor de Pedro, o Papa João Paulo II, ao Brasil trouxe um sopro de esperança e de vitalidade à Igreja. Durante esta visita, no dia 2 de julho, o Santo Papa ordenou 74 sacerdotes, dos quais dois da Arquidiocese de Diamantina: Pe. Afonso de Fátima Ribeiro e Pe. Antônio Amadeu Rocha. Surpreendendo a todos, no dia 10 de setembro de 1980, a Santa Sé comunicou a aceitação antecipada da renúncia de Dom Geraldo de Proença Sigaud ao governo arquidiocesano por motivo de saúde. No mesmo ato nomeava o Arcebispo de Belo Horizonte, Dom João Rezende Costa, como Administrador Apostólico da Arquidiocese.
Na tentativa de fortalecer os laços do Seminário com as famílias dos seminaristas, nos dias 05 e 06 de novembro de 1980, a reitoria promoveu o primeiro encontro de pais dos seminaristas. Foi uma bela iniciativa que, depois de algumas pausas , continua viva até os nossos dias. Quando, no dia 07 de abril de 1981,tomou posse o novo Arcebispo, Dom Geraldo Majela Reis, uma das suas maiores preocupações, se não a maior, era, com razão, o problema das vocações. O Seminário estava quase vazio e a inteira década de 1980 passaria sem ordenações sacerdotais! Em sintonia com o reitor do Seminário e sua equipe, logo dedicou-se à dimensão vocacional. Em 08 de novembro, o próprio Arcebispo presidiu, no Seminário, a primeira reunião do Movimento Serra Clube que
tem a missão de rezar e trabalhar pelas vocações. No dia 27 de agosto de 1983, o Serra Clube de Diamantina foi agregado ao Serra Internacional e à Pontifícia Obra das Vocações Sacerdotais. Como gesto de reconhecimento e gratidão aos benfeitores do Seminário, por determinação de Dom Geraldo Majela, a solenidade de Cristo Rei passou a ser considerada como o Dia do Benfeitor do Seminário, sendo agraciados naquela ocasião com um diploma de um benfeitores. Como muitos auxílios econômicos continuavam a vir da Alemanha, o dia 05 de junho, Dia de São Bonifácio, patrono daquele país, foi instituído como o Dia do Benfeitor Alemão. Atualmente, o Dia do Benfeitor é celebrado na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, patrono do Seminário.
Neste mesmo ano, Ano Santo da Redenção de 1983, no dia 24 de abril, abriu-se solenemente o Ano Vocacional Arquidiocesano. Para incremento da mentalidade vocacional nas paróquias e comunidades, pela primeira vez os seminaristas foram enviados para realizar trabalhos pastorais durante a Semana Santa. No mesmo ano, resgatou-se o trabalho da Obra das Vocações Sacerdotais (OVS) e, no dia 28 de agosto de 1983, realizou-se a sua 1ª Assembleia Arquidiocesana. Os frutos desse grande trabalho vocacional começariam a ser colhidos no início da década de 1990. Desde então não faltaram mais ordenações sacerdotais.
No ano vocacional fez-se também memória justa e fervorosa dos sacerdotes falecidos. E no dia de finados, 2 de novembro de 1983, Dom Geraldo Majela abençoou o novo jazigo dos padres no cemitério municipal de Diamantina. No dia 10 de agosto de 1984, o Pe. Gusmão deu início a uma reforma no jardim à frente do Seminário. Era talvez o sinal externo de que o Seminário estava recobrando sua vitalidade e sua beleza. Para alegria e conforto, no ano seguinte, 1985, o curso de Teologia voltou a funcionar em Diamantina. E, pela primeira vez na história, o número de seminaristas do Seminário Maior foi superior ao do Seminário Menor.
Ao longo de sua reitoria, o Pe. Gusmão fez também manutenções na estrutura física do Seminário e algumas alterações no interior da Basílica. E precisamente sob sua coordenação, no dia 05 de junho de 1978, iniciaram-se os trabalhos de lixamento e de pintura da Igreja de Pedra. No final de 1985, o Pe. Gusmão deixou a reitoria para assumir a Paróquia Imaculada Conceição, em Várzea da Palma – MG. Mais tarde, no dia 19 de março de 1998, foi sagrado Bispo da Diocese de Porto Nacional-TO, da qual é hoje Bispo Emérito.
Naquele mesmo dia, o Núncio fez a dedicação da Catedral de Diamantina. Por vontade do reitor, a partir de 1987, o dia 16 de agosto passou a ser comemorado como o Dia do Seminarista. No mês de abril de 1988, a parte do prédio que estava alugada para a 5ª Delegacia Regional de Ensino foi desocupada. A reforma deste espaço começou no mês seguinte, de modo que, no segundo semestre, mais precisamente no dia 20 de agosto, o dormitório da Teologia passou a funcionar no terceiro andar do prédio “novo”, acima da atual biblioteca. Neste mesmo ano, 1988, haja vista a crise vocacional e formativa generalizada dos anos anteriores, a pedido da Santa Sé, os seminários foram visitados. O Seminário de Diamantina teve como seu Visitador Apostólico Dom João Bosco Óliver de Faria, bispo auxiliar de Pouso Alegre-MG. Sua visita oficial, ocorrida entre os dias 05 e 09 de outubro, aconteceu em clima de cordialidade e comunhão.
O Visitador sentiu-se tão bem acolhido que acrescentou um dia a mais aos previstos oficialmente. Naquela época, ninguém imaginava que o jovem Bispo voltaria, 20 anos mais tarde, para ser o Arcebispo Metropolitano. São os caminhos de Deus. No final de 1988, o Pe. Borges terminou o tempo da sua reitoria e, depois de passar três meses como Vigário Paroquial na Paróquia Imaculada Conceição, em Várzea da Palma-MG, tornou-se Pároco da Paróquia Santo Antônio da Sé, em Diamantina.
Neste mesmo ano, no dia 05 de fevereiro, por vontade de Dom Geraldo Majela, o Seminário Menor, contando com 12 seminaristas, deixou Diamantina e passou a funcionar na cidade de Curvelo. Foi nomeado como primeiro reitor o Pe. Geraldo Ribeiro Ferreira. O Seminário Menor passou, então, a ser chamado de Comunidade Vocacional Cristo Jovem. No dia 04 de dezembro de 1990, Pe. João Nogueira comunicou a sua renúncia ao cargo de reitor para poder dedicar-se melhor à direção do Colégio Diamantinense que lhe consumia muito tempo e energias.
Mais tarde, em 1995, ele concluiu o Mestrado em Filosofia na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, em Roma. Hoje é professor de Filosofia na PUC-Minas e vigário paroquial da Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz, em Belo Horizonte.
Foi na reitoria do Pe. Romualdo que, nos dias 02 e 03 de maio de 1992, aconteceu o primeiro encontro dos ex-alunos do Seminário. No ano seguinte, em 1 e 12 de setembro, foi realizada uma segunda edição do encontro de ex-alunos, contando com as presenças ilustres de Dom Belchior Neto, Bispo de Luz e ex-reitor, e Dom Valdemar Chaves de Araújo, Bispo de Teófilo Otoni e ex-aluno do Seminário de Diamantina. Aos 02 de agosto de 1995, Dom Paulo Lopes de Faria foi nomeado Arcebispo Coadjutor de Diamantina. Imediatamente, ele retomou a tradição de enviar seminaristas e padres para estudarem em Roma, a fim de comporem o corpo docente do Seminário. Essa prática mantém-se ininterrupta até os dias de hoje.
Também no ano de 1995 o Pe. Geraldo Ribeiro deixou a reitoria do Seminário Menor em Curvelo. Sucedeu-lhe por um ano o Pe. Ricardo César da Costa. Em janeiro do ano seguinte, 1996, por vontade de Dom Paulo, o Seminário Menor voltou a funcionar no prédio do Seminário em Diamantina, tendo como reitor o Pe. Paulo Henrique Soares, que era então ecônomo do Seminário Maior. Pe. Paulo Henrique reestruturou o prédio do Seminário Menor, tal como se apresenta atualmente.
Em 20 de setembro de 1997, Dom Paulo criou a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, tendo a Basílica-Capela do Seminário como sua Igreja Matriz. O Pe. Paulo Henrique, reitor do Seminário Menor, foi nomeado primeiro pároco. No final daquele mesmo ano, 1997, o Pe. Romualdo deixou a reitoria, permanecendo, porém, na direção acadêmica do Seminário. Em 1999, ele partiu como missionário para a Arquidiocese de Palmas-TO, onde foi o primeiro reitor do Seminário Interdiocesano. No dia 15 de agosto de 2008, foi sagrado Bispo Coadjutor da Diocese de Porto Nacional-TO, para ajudar e suceder o seu amigo Dom Gusmão. Atualmente é o Bispo Diocesano da referida diocese.
Foi também na reitoria do Pe. Paulo Francisco que, no dia 17 de setembro de 2000, faleceu o Mons. Celso de Carvalho. Durante décadas, ele foi, por excelência, professor no Seminário. Mestre em Filosofia e Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, onde viveu de 1936-1945, vendo de perto os horrores da II Guerra Mundial. Mons. Celso, autor de vários livros, é reconhecido e admirado pelos seus dotes de poeta e trovador. Sua biblioteca pessoal aumentou consideravelmente o volume e a qualidade da Biblioteca do Seminário. Seu velório e seu sepultamento foram uma profunda expressão do quanto era querido e considerado importante para a vida cultural de Diamantina. Não podendo ser diferente, o corpo do Mons. Celso foi inumado na cripta da Basílica. Fazendo justiça à sua memória, a Biblioteca do Seminário traz hoje o seu nome.
Pe. Paulo Francisco renunciou ao cargo de reitor em dezembro de 2000. Em seguida, assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Couto de Magalhães de Minas, mas continuou trabalhando como professor no Seminário. Hoje é pároco da Paróquia Imaculada Conceição em Curvelo-MG.
A pedido de Dom Paulo, colocou, ao lado esquerdo da portaria, um antigo busto de Dom João Antônio dos Santos que havia sido encontrado no Palácio Arquiepiscopal. Pe. Paulo realizou a pintura externa do Seminário, preparando tudo para a celebração do centenário de batismo do Presidente Juscelino Kubitscheck – uma festa tão querida pelo Arcebispo, Dom Paulo. Na manhã do dia 23 de março de 2003, apesar da chuva torrencial, foi celebrada a Santa Missa e, em seguida, inaugurada a estátua de Juscelino Kubitscheck como seminarista, à direita da entrada principal do Seminário.
No segundo semestre de 2002, Dom Paulo transferiu o Seminário Menor para o Palácio Arquiepiscopal e o seu reitor passou a ser o Pe. Lindomar Rocha Mota. Os seminaristas menores estudavam na Escola Estadual Professora “Ayna Torres” – Polivalente. Depois de alguns anos, o Seminário Menor deixou de funcionar.
Em 13 de julho de 2003, o Côn. Paulo Henrique, deixou o Seminário e desceu como pároco da Paróquia Santo Antônio da Sé – Catedral. Na presente data é novamente pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, a Basílica do Seminário, em Diamantina.
Nos anos de 2003 a 2005 aconteceu, sob a presidência de Dom Paulo o IV Sínodo Arquidiocesano, com muitas reflexões doutrinárias e orientações pastorais. O Seminário foi lugar de intenso trabalho, muitos encontros e grande comunhão diocesana. O ponto culminante ocorreu no dia 06 de junho de 2004, quando celebrou-se o sesquicentenário de criação da Diocese. Naquele dia, a missa solene, celebrada no pátio do Quartel do 3º Batalhão da PM, foi presidida pelo Núncio Apostólico, Dom Lorenzo Baldisseri , concelebrada pelo Arcebispo, Dom Paulo, pelo Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo, do Clero diamantinense, e pelos Arcebispos e Bispos do Regional Leste II da CNBB – dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, cuja assembleia anual foi realizada em Diamantina -, pelo Clero diamantinense e muitos sacerdotes visitantes.
A celebração contou com a participação de muitas autoridades e uma grande multidão vinda de todas as paróquias da Arquidiocese. Ao todo, estiveram presentes 63 bispos e mais de três mil fiéis. O novo reitor deu grande atenção à dimensão acadêmica e disciplinar, procurando, porém, equilibrar todas as dimensões da formação sacerdotal – acadêmica, espiritual, humano- afetiva, comunitária e pastoral. Cada ano formativo era focado em uma dimensão específica. Na reitoria do Pe. Lindomar, o curso de Filosofia passou a ser reconhecido pela Faculdade de Filosofia de Diamantina (FAFIDIA), ligada à Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).
Naquele período, a situação econômica da Arquidiocese era preocupante. Era “tempo de vacas magras”. Para socorrer as contas, foi necessário lotear e vender uma parte do terreno do Seminário, onde encontrava-se o seu pomar. Não obstante às graves dificuldades econômicas, Pe. Lindomar fez a instalação da internet e criou a sala de computadores em rede, anexa à biblioteca. Também a biblioteca foi reestruturada e modernizada e o teatro foi reformado, transformando-o em um moderno auditório. Pe. Lindomar estabeleceu uma parceria com o Conservatório Estadual de Música para que os seminaristas interessados aprofundassem os conhecimentos musicais. A Schola Cantorum do Seminário, que há alguns anos voltara a funcionar, passou a ser regida por uma maestrina do Conservatório e, no fim, acabou deixando de existir.
Em janeiro de 2007, Pe. Lindomar Rocha deixou a reitoria. Depois de alguns meses, tornou-se pároco da Paróquia São José, em São José da Lagoa, distrito de Curvelo. Após ficar um grande período como reitor da FAC (Faculdade Arquidiocesana de Curvelo) e Pároco da Paróquia Santo Antônio em Curvelo, foi nomeado pelo Santo Padre o Papa Francisco como o quarto bispo da diocese de São Luís de Montes belos no ano de 2020.
É Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Fez uma parceria com a Faculdade de Nutrição da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) para o acompanhamento nutricional dos seminaristas e realizou mudanças na alimentação. Reorganizou o currículo do curso de Filosofia, adequando-o às normas vigentes. Adquiriu novos computadores e melhorou o serviço de internet. Reformou também a caixa d’água central. No tempo da sua reitoria, o Jornal Estrela Polar funcionava bem no Seminário, sob a direção de alguns seminaristas.
No dia 28 de julho de 2007, o novo Arcebispo, Dom João Bosco Óliver de Faria, tomou posse na Arquidiocese. Para estar próximo ao Seminário e em contato direto com os seminaristas, imediatamente assumiu a cadeira de Teologia Moral. Dom João Bosco é Mestre nesta disciplina pela Academia Alfonsiana, em Roma. Com o projeto de Dom João Bosco, Pe. Ivonei transformou uma das salas de jogos em bons quartos para os seminaristas do último ano de Teologia.
Pe. Ivonei deixou a reitoria em junho de 2008 e assumiu a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Buenópolis-MG. Mais tarde, deixou o ministério sacerdotal. Pediu e recebeu do Santo Padre, o Papa, a dispensa das obrigações sacerdotais e, logo em seguida, recebeu o sacramento do matrimônio. Atualmente é professor do Colégio Diamantinense.
No ano 2000, coube a ele a responsabilidade de assumir as cadeiras de Lógica Teoria do Conhecimento que pertenceram ao Mons. Celso de Carvalho. Pe. Renato é mestre em Filosofia pelo Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, em Roma. No período da sua reitoria, por causa das graves dificuldades financeiras da Arquidiocese, o curso de Filosofia deixou de ser reconhecido civilmente. A última turma reconhecida formou- se em dezembro de 2009. A sua reitoria foi também a última de caráter interdiocesano.
De fato, ao longo da história do Seminário, muitas dioceses de Minas Gerais e de outros estados enviavam seus seminaristas para estudar em Diamantina. No início da década de 2000, além dos seminaristas de Diamantina, estavam presentes seminaristas das dioceses de Almenara, Araçuaí, Teófilo Ottoni e Paracatu. Por motivos vários, essas dioceses, em tempos diferentes, transferiram os seus seminaristas. A última diocese a deixar o Seminário de Diamantina foi a de Teófilo Otoni, em dezembro de 2010, transferindo os seus seminaristas para o Seminário da Diocese de Caratinga. Depois de mais de um século, pela primeira vez, o Seminário de Diamantina formaria somente os seminaristas da Arquidiocese.
No último ano da reitoria do Pe. Renato, em 2011, foi iniciado um projeto de revitalização da antiga biblioteca do Seminário. Milhares de livros a nt igo s p a s s ara m p o r u m p r oces s o d e desinfestação e higienização. Alguns dos livros raros que pertenceram ao segundo reitor, Pe. Miguel Sipolis, foram restaurados. O projeto, porém, não chegou a ser concluído. Pe. Renato deixou a reitoria no dia 30 de novembro de 201 e foi para Curvelo, onde é, ainda hoje, vice-diretor da Faculdade Arquidiocesana de Curvelo (FAC) e pároco da Paróquia São Judas Tadeu.
Graças ao empenho pessoal de Dom João Bosco, a Arquidiocese pôde, enfim, saldar as suas dívidas. Havia passado o longo e difícil tempo da crise econômica. Dom João Bosco adquiriu ainda, um sítio localizado no município de Datas-MG, onde construiu um moderno Centro de Pastoral. No sítio cultiva-se hortaliças, frutas e cria-se galinhas para consumo dos seminaristas. O espaço funciona também como espaço de lazer e de encontro dos seminaristas e dos padres.
Na sua reitoria, com o projeto do Arcebispo, Dom João Bosco, foi feita uma ampla reforma dos dormitórios e dos banheiros do Seminário, além da reestruturação da Capela interna. Modernizou o sistema de internet instalando rede wifi e ampliou o campo de trabalho pastoral dos seminaristas incluindo os asilos e os hospitais. Introduziu a prática comunitária semanal da leitura orante da Bíblia, a Lectio Divina.
Por vontade de Dom João Bosco, no ano de 2013, o Seminário Menor voltou a funcionar, instalando-se, uma vez mais, na cidade de Curvelo, agora com o nome de Seminário “Mons. Otacílio Augusto de Sena Queiroz”. O Pe. Gilmar Boaventura Campos, diretor de estudos do Seminário Maior, assumiu a função de reitor. Em 2016, o Seminário Menor retornou à sua casa originária, em Diamantina. Atualmente conta com cinco alunos que estudam no Colégio Diamantinense. O reitor do Seminário Menor passou a ser o mesmo reitor do Maior, como era nos tempos antigos. Portanto, o Pe. Frederico é o reitor tanto do Seminário Maior quanto do Menor. Como formador residente no Seminário Menor está, porém, o Pe. Wiver Rogério Silveira Rocha.
Em 22 de maio de 2016, Dom Darci José Nicioli tomou posse da Arquidiocese como seu oitavo Arcebispo e seu nono Bispo. Desde então, tem dispensado atenção e zelo pelo Seminário Arquidiocesano. Por sua vontade, realizou uma parceria com a Escola de Música Arte Miúda, onde , semanalmente , os seminaristas aprofundam seus conhecimentos musicais e com a qual participam de apresentações culturais. Com a orientação do Arcebispo e sob coordenação do Pe. Frederico, atualmente, realiza-se a reforma da calçada à frente do Seminário e prepara-se a sua nova pintura externa, como também a pintura da Basílica do Sagrado Coração de Jesus. O Seminário reveste-se de beleza e de jovialidade para celebrar a festa dos 150 anos da sua fundação, à qual se soma o centenário de elevação da Diocese à Arquidiocese.
As festividades, iniciadas no dia 14 de julho de 2017, estenderam-se até o dia 8 de julho de 2018. Neste Ano Jubilar, o Arcebispo, o Clero, os seminaristas e todos os fiéis celebram, com uma variada programação religiosa e cultural, os sinais da misericórdia de Deus na história da Arquidiocese de Diamantina e do seu Seminário. Nos seus 150 anos de história, o Seminário de Diamantino soma mais de dois mil alunos, sob a direção de 32 reitores e o trabalho dedicado de dezenas de sacerdotes e leigos. Neste Seminário foram gerados centenas de sacerdotes, dezenas de Bispos e um Cardeal, Dom Serafim Fernandes de Araújo. Como o Seminário não gera somente padres, mas, antes de tudo, homens de bem e cristãos autênticos, é importante ressaltar que centenas de homens saíram dali com o alforje repleto de boas sementes a serem espalhadas no campo do mundo.
Dentre os seus milhares de alunos, contam-se inúmeras personalidades nos mais variados campos da vida social. Vários nomes importantes na política, como Sabino Alves Barroso Junior, Deputado Provincial no tempo do Império, Senador e Deputado Federal em várias legislaturas; Antônio Olinto dos Santos Pires, primeiro Presidente do Estado de Minas depois da proclamação da República; Francisco dos Santos Sá, Parlamentar e Ministro da Viação; Juscelino Kubitscheck de Oliveira, Prefeito de Belo Horizonte, Deputado Federal, Governador de Minas e Presidente da República; e outros tantos. Do Seminário saíram muitos homens de letras, como Antônio dos Santos Torres, Leopoldo da Silva Pereira e Aristides Corrêa Rabello.
Excelentes juristas, como Edmundo Pereira Lins, que chegou a ser ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal; intelectuais como Aurélio Egídio dos Santos Pires, cofundador da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte e literato; historiadores como Sóter Ramos Couto e Paulo Krüger Corrêa Mourão; militares como Olímpio Mourão Filho, general do Exército e Presidente do Superior Tribunal Militar. Dentre os seus ex-alunos, o Seminário conta ainda com vários médicos, engenheiros, jornalistas, industriais e professores universitários.
A história é “mestra de vida”. Comemorando o seu passado, o Seminário reforça a consciência daquilo que é: uma realidade vivente e não uma mera configuração de espaço e de tempo. Como um ente vivo, o Seminário sofre as influências do tempo, desgasta-se e envelhece, mas resiste e renova-se. Entre as suas efemérides, contam-se primaveras floridas, mas também outonos secos. Atravessou momentos difíceis, sofreu os abalos da história , e , parcialmente, experimentou a queda, mas não quis permanecer caído. Reergueu-se e recomeçou. Sempre se elevou e resistiu, como que recordando a si mesmo que a sua Igreja é de Pedra e que sobre uma rocha está assentado. A consciência do passado, com sua fragilidade e sua resiliência, exorta à responsabilidade do tempo presente.
O que é permitido esperar do velho Seminário de Diamantina quando festeja os seus 150 anos? Simplesmente que continue sendo aquilo que sempre foi: uma “fonte de juventude”, uma “sementeira de valores”, um “ninho de águias”, uma “escola do evangelho”, uma “forja de bom caráter”, um “oásis de esperança”, um “farol da verdade”, a “casa do clero”, a “pupila dos olhos do Bispo” e o “coração da Diocese”. Que ele apresente-se hoje tal como sempre foi: um vasto “campo florido” onde crescem variados tipos de flores, porque nunca esqueceu a lição que está nas origens do seu nascimento: “uma Diocese só será florescente se for fluorescente o seu Seminário”.