/
/
O VERBO ENCARNADO: A GRANDE PROMESSA QUE SE CONCRETIZA

O VERBO ENCARNADO: A GRANDE PROMESSA QUE SE CONCRETIZA

Na aurora do novo tempo de Deus, toda a promessa do Altíssimo se cumpre em uma frágil Criança nascida de uma jovem num simples estábulo de uma pequena cidade de Judá. O Deus Onipotente manifestou-se à humanidade assumindo a sua natureza para dar-nos a dignidade de seus filhos. É esse grande mistério que celebramos na Solenidade e no Tempo litúrgico do Natal: Deus se fez um de nós para nos salvar, e, dessa forma, cumprir plenamente sua promessa.

É conhecida por nós a popular canção que durante este tempo costumeiramente ouvimos: “De Jessé nasceu a vara, da vara nasceu a flor e da flor nasceu Maria, de Maria o Salvador”. Essa famosa melodia coloca nos lábios de nosso povo a profecia de Isaías, anunciando a chegada de um libertador: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento de suas raízes” (Is 11,1). O profeta grita ao povo sem esperança que Deus enviará salvação, porque sua promessa não falha. Ao anunciar a crença messiânica de tal maneira, colocando o Enviado de Deus como integrante da dinastia de Davi, o Senhor quer mostrar ao seu povo que Aquele que virá partilhará da história, da cultura, das raízes do povo de Israel. Em outras palavras, a promessa é de um Libertador próximo

.

Aliás, promessa é uma constante nas Sagradas Escrituras. O Deus que faz aliança com seu povo frequentemente manifesta seu amor para com Israel através de suas promessas. Uma terra onde corre leite e mel (cf. Ex 3,8), um trono sem fim (cf. 2Sm 7,13), o derramamento de seu Espírito (cf. Jl 3,1), dentre tantos outros juramentos. E o Senhor sempre foi fiel à sua palavra, não falhando em nada do que dissera (cf. Jz 21,45). Dentre tantas manifestações de amor, talvez a mais bela e importante seja aquela que se refere ao Messias. Sim, o Deus que libertou o povo escravizado do Egito não mais haveria de vê-lo sofrer sob qualquer tipo de cativeiro. Um libertador era necessário!

A necessidade de um Messias torna-se algo essencial para a fé judaica. O exílio babilônico, mais que uma destruição cultural e religiosa, acabou sendo um período crucial para Israel porque o povo pôde se fortalecer, preservando sua fé e reanimando o desejo de habitar a terra prometida. Ao regressarem os expatriados à terra de Israel, muitos esperavam que naquele momento surgisse um grande líder que reconstruiria a glória do antigo Templo devastado e faria de Israel uma potência frente aos outros povos. Mas isso não aconteceu. Todavia, Deus não haveria de deixar seu povo abandonado: um Messias deveria vir para libertar os oprimidos. E realmente veio, alguns séculos depois.

Sobre a ascendência de Jesus Cristo, os Evangelhos de Lucas e Mateus são claros em afirmar sua pertença à dinastia real. De fato, o Cristo descende do tronco de Jessé; de fato, seu trono estaria profetizado desde antigos tempos (cf. Gn 49,10). Mas era naquele momento, “na plenitude dos tempos” (Gl 4,4) que a grande promessa se cumpriria. A uma simples jovem de uma pequena povoação no interior de Judá, Deus faz uma promessa: “será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai […] e seu reino não terá fim” (Lc 1,32-33). O sim da Serva do Senhor se faz ouvir e ali Deus se encarna. O Verbo Eterno se faz homem e assim, o infinito entra no finito, a plenitude adentra no mundo, duas realidades se tocam – o Criador enfim assume a criatura.

No entanto, “veio para os seus, mas os seus não o receberam” (Jo 1,11). Não esperavam um Salvador? Não era essa a esperança mais forte do judeu? Certamente, porém, não à maneira do Nazareno. Ele não vinha libertar puramente de uma opressão política, social ou ideológica, mas dar uma salvação plena para a pessoa humana. A pregação daquele homem, que se dizia Mestre de uma multidão, era por demais escandalosa aos ouvidos de Israel. “Hoje se cumpriu esta profecia que ouvistes” – proclama Ele na sinagoga de Cafarnaum. Mas não é ele o Nazareno, o filho de Maria e de José? (cf Lc 4,21; Mt 13,55). É isto o que mais surpreende no Messias Esperado: Ele supera toda esperança. O “Desejado das nações” transcende todo desejo. Seria absurdo pensar num homem-Deus, no entanto é assim mesmo que Ele se manifesta desde o seu nascimento. Seu próprio nome já é revelação de quem é. Sobre isso, escreve Bento XVI:

“No nome de Jesus, esconde-se o tetragrama [YHWH], o misterioso nome recebido no Horeb, que agora é ampliado até a afirmação: Deus salva. O Deus que é, é o Deus presente e salvador. A revelação do nome de Deus, que começou na sarça ardente, é completada em Jesus (cf. Jo 17,26).”

Na pessoa de Jesus Cristo, o Antigo Testamento se finda. Eclode um novo modo de revelação de Deus, agora o Altíssimo se faz presente na carne humana. Tudo o que os patriarcas e profetas desejaram tomou concretude. O Verbo, fazendo-se carne, opera nova criação, um novo Gênesis agora redimido, porque o Antigo Testamento dá lugar ao Novo. É firmada uma Nova Aliança, mais plena que aquela feita no Sinai.

Celebrar o Natal do Senhor é adentrar nesse mistério de promessa e cumprimento. O Deus que diz, é o Deus que faz, porque é o Deus que é. E esse “ser” no meio de nós é precisamente sua missão, ou seja, a salvação daqueles a quem ama. Para viver este tempo de Natal, tenhamos em mente a cena impressionante e humilde do presépio. Ali, o canto celestial dos anjos anuncia uma tremenda verdade. Ali, a luz cintilante da estrela aponta uma irrupção de beleza nunca antes vista. Ali, a adoração de pessoas humildes revela um mistério até então nunca imaginado: Deus repousa numa manjedoura. E mais que um Deus que está próximo, é um Deus que se faz um de nós para que sejamos um com Ele.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus. 2002.
BENTO XVI. Jesus de Nazaré. Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2021. p. 35.

Compartilhar: