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Em Ti, Senhor Bom Jesus, está a nossa esperança

Em Ti, Senhor Bom Jesus, está a nossa esperança

Por Daniela Ramos:

À imagem do Senhor Bom Jesus, que traz a expressão da paixão de Jesus Cristo pela humanidade, acorre o povo de Deus para fazer a experiência de serem olhados pela misericórdia expressa no olhar do Bom Jesus que nos remete a certeza de que: “Deus é bom!”

Na passagem de Mt 27,26-31)[1]temos a referência da imagem de Jesus Cristo venerada sob o título do “Bom Jesus”, ela retrata o Cristo já flagelado, no início de seu calvário até a Cruz.

Contemplando a imagem do Senhor Bom Jesus, é impossível permanecer indiferente.  Não há como não pensar no sofrimento que Deus, feito homem, sentiu em favor da humanidade. Por essa imagem do Cristo que sofre, os devotos a Ele recorrem em seus momentos de angústia e aflição. Em alguns lugares, ela vem acompanhada da expressão latina Ecce homo (“Eis o homem”), em referência à fala de Pilatos no episódio da condenação de Jesus. Outras imagens também trazem diferentes momentos do sofrimento de Cristo, como a agonia no Horto das Oliveiras, a Via Crucis, entre outros. No coração de cada fiel há um clamor silencioso por paz, consolo e salvação. E é no olhar misericordioso do Senhor Bom Jesus que encontramos a esperança que renova nossas forças e acalma nossas tempestades.

Ele, que carregou a cruz por amor, conhece nossas dores mais profundas e jamais abandona os que Nele confiam. O Senhor Bom Jesus é o amparo dos cansados, a luz dos que caminham na escuridão e a certeza de que, mesmo em meio às provações, a vitória vem pela fé.

Esperar no Senhor Bom Jesus é mais do que aguardar o milagre: é acreditar que Sua vontade é perfeita, que Seus Tempos são justos e que Sua Presença nunca nos falta. Mesmo quando tudo parece perdido, Ele nos mostra que a esperança não decepciona, porque é sustentada por um amor eterno.

É confiar mesmo sem entender. É acreditar que, mesmo nas noites mais escuras, a luz do Senhor brilhará. É permanecer firme, como uma âncora, sustentada pela fé: “Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura.” (Hb 6,19)

Devemos confiar, pois, no Senhor Bom Jesus! Nele está nossa esperança, nosso refúgio e nossa salvação: “Os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias…” (Is 40,31)

Por que realçar os sofrimentos e a morte do Senhor? Por que ficarmos lembrando de sua Paixão, se Ele está vivo e vitorioso? Para trazer sempre presente ao nosso coração que fomos resgatados, como afirma Pedro, “não por coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro sem defeito e sem mancha” (1Pd 1,18-19); para tomarmos consciência do quanto nossa redenção foi custosa ao Filho de Deus. É somente esta consciência de que o Filho de Deus “me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20) que é capaz de suscitar nos corações o amor agradecido, que leva à autêntica vida cristã. Quem não valoriza a paixão e a morte do Senhor é incapaz de compreender o núcleo do cristianismo, de compreender que o quanto Deus amou o mundo, “a tal ponto que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não morra, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16).

Aquele que adoramos como Deus é o mesmo que padeceu por nós. Como o centurião aos pés da cruz, somos convidados a olhar para a imagem de um homem torturado e reconhecer: “na verdade, esse homem era Filho de Deus” (Mc 15,39).

A devoção ao Bom Jesus atesta que estar vivo e presente em nossas comunidades cristãs, a consciência da Paixão e dos sofrimentos do Senhor. Longe de cultuar o ídolo do sucesso e do poder, o povo cristão, iluminado por uma unção que vem do mesmo Cristo (cf. 1Jo 2, 20.27), reconhece seu Deus e Salvador, representado na imagem de um homem sofredor.

É interessante que o povo cristão mais simples sempre teve um Cristo muito concreto, por mais falho que possa ter sido na plenitude da doutrina. As pessoas simples sempre contemplaram com devoção os mais diversos Cristos representados nas igrejas e até os levaram para casa. Mas o seu Cristo de verdade é sempre o Bom Jesus, aquele sofredor flagelado na coluna, humilhado como rei de irrisão, pregado na cruz e conduzido morto na sexta-feira santa. Podem se encantar com o Menino Jesus no presépio ou nos braços de Maria ou dos santos, mas, na hora da verdade, o Cristo que sofre é aquele com quem todos podem se identificar.

Há momentos em que o coração parece apertado pelas dores do tempo presente. As incertezas da vida, as perdas, o cansaço e as lutas diárias tantas vezes colocam à prova nossa fé. Nesses instantes, voltamos os olhos para o alto, e encontramos ali, na cruz, uma figura que não apenas sofreu — mas amou até o fim. É o Senhor Bom Jesus, expressão maior de esperança e redenção.

A imagem do Senhor Bom Jesus crucificado não é símbolo de derrota, mas de entrega, amor e promessa de vida nova. Seus braços abertos acolhem os que sofrem, os que choram, os que esperam em silêncio. A cruz, que poderia ser sinal de fim, torna-se sinal de recomeço, pois foi nela que Ele venceu a morte com o amor.    Podemos ilustrar o que afirmamos anteriormente, fazendo referência ao alto da cidade de Diamantina, que encontramos a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus pertencente à Paróquia do Senhor Bom Jesus. A imagem do Senhor Bom Jesus, colocada no ponto mais alto da cidade, é mais do que uma obra religiosa ou artística — ela é um marco espiritual e emocional, visível de longe, como um sinal permanente de esperança para o povo.

Lá do alto, Ele contempla todos: ricos e pobres, tristes e alegres, fortes e cansados. Seus braços estendidos na cruz lembram que Sua entrega foi para todos, sem distinção. Mesmo do alto, não está distante — está presente, acolhedor, como alguém que vela e intercede.

Do alto se vê melhor — assim como Deus vê além das aparências, conhece o íntimo de cada coração e nunca abandona quem sofre.  Do alto vem a luz — a esperança brilha como uma estrela, guiando quem está nas sombras da dor, da dúvida ou da solidão.  O olhar da imagem do Senhor Bom Jesus da igreja matriz é inclinado, remetendo-se ao momento “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”(Lc 23, 34).

Dai decorre que, o alto é lugar de refúgio — olhar para o Senhor Bom Jesus no alto é como levantar os olhos e ao contemplar o olhar inclinado Dele, afirmar: “Minha esperança está em Ti, Senhor.”

A cada pessoa que acorre ao alto da cidade e olha para Ele, mesmo sem dizer uma palavra, é como se o coração sussurrasse: “Ainda há esperança. Ainda há amor. Ainda há salvação.”

A espiritualidade cristã encontra no Senhor Bom Jesus um caminho de confiança, uma fonte de esperança que não decepciona.

A espiritualidade é, portanto, uma vida alimentada pela presença de Deus. E o Senhor Bom Jesus nos convida ao silêncio da oração, à simplicidade do coração, à coragem de viver com Ele os mistérios do sofrimento e da alegria. Quem caminha com Ele, nunca caminha só.

Em cada oração feita diante de sua imagem, em cada lágrima silenciosa confiada a Ele, nasce uma semente de esperança. Uma esperança que não depende das circunstâncias externas, mas que brota do encontro com Aquele que nos amou até o fim.

No coração do Senhor Bom Jesus há sempre espaço para recomeçar. Ele é luz para os que andam na escuridão, é consolo para os que sofrem, é força para os que lutam. Nele está nossa esperança.

“O Senhor é minha luz e minha salvação: de quem terei medo?” (Sl 27,1).

[1] Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e o entregou para ser crucificado. Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta de Jesus. Tiraram a roupa dele, e o vestiram com um manto vermelho; depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram dele, dizendo: “Salve, rei dos judeus!” Cuspiram nele e, pegando a vara, bateram na sua cabeça. Depois de zombarem de Jesus, tiraram-lhe o manto vermelho, e o vestiram de novo com as próprias roupas dele; daí o levaram para crucificar.”

Autora: Daniela Ramos de Oliveira

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