A vocação é um caminho que se revela aos poucos, marcado por encontros, descobertas, crises e amadurecimentos. Seja no entusiasmo inicial de um chamado acolhido com o coração aberto, seja nas fases de dúvida e reconstrução pessoal, cada etapa contribui para moldar uma resposta mais livre e consciente ao Senhor. Os dois relatos a seguir representam momentos distintos de uma mesma busca: o despertar vocacional e o amadurecimento dessa experiência, mostrando que o processo formativo vai além dos muros do Seminário, ele é, sobretudo, um percurso interior.
Por Ednilson Rocha:
O Senhor sempre me chamou a servi-Lo, e eu sempre busquei estar à disposição da melhor forma possível, em encontros, serviços pastorais e em tudo o que me era proposto em minha paróquia de origem. Sempre fui fascinado pela vida religiosa, mas achava que minha vocação seria para servir ao Senhor, só que no ambiente de uma família, com o Sacramento do Matrimônio. Porém, como Jesus sempre gosta de me surpreender, foi me cativando aos poucos e me trazendo cada vez mais para perto, e eu, muitas vezes, não queria responder ao que meu coração gritava com tanta força.
A vida foi seguindo normalmente, até que, no ano passado, meu pároco, Pe. Fabrício Ferreira, logo após uma confissão, percebeu a angústia que havia em mim e, mesmo eu estando, na época, namorando, me mandou fazer o encontro vocacional. Eu o obedeci, vim conhecer o Seminário e participar do encontro, que, de certa forma, me tocou de uma maneira diferente, pois o estilo de oração e até mesmo de vida que os seminaristas levavam na casa me deixaram fascinado. Porém, eu ainda estava namorando, e eu sonhava em um dia casar e ter filhos. Mas o namoro, que ia tão bem, acabou terminando, pois eu percebia que não era mais a vontade de Deus para minha vida naquele momento.
Segui meu rumo e continuei a fazer minha caminhada vocacional, e o que sempre me fascinava em todo encontro que participava era a convivência entre todos e a espiritualidade, que também era sempre muito bonita. Outros padres, como Pe. Alam e Pe. Darlan, foram muito importantes para que o processo acontecesse da melhor forma possível, pois, em cada encontro que tínhamos, eles deixavam claro que o mais importante era que fôssemos felizes, escolhendo ou não continuar a caminhada.
A decisão veio, e com ela, o medo do novo e de dar errado. Foram dias de preparação para organizar todas as coisas e, finalmente, no dia 02 de fevereiro, me tornei oficialmente um seminarista do Seminário Propedêutico. No primeiro momento, tudo foi muito novo, e muitas informações foram chegando ao mesmo tempo, por isso a adaptação foi um desafio grande, porém, sempre com o auxílio dos colegas e dos seminaristas que já estão há mais tempo nesta jornada.
Entrar no ritmo da casa, apesar de, no começo, ter sido bastante desafiador, é algo que tem acontecido de maneira muito natural. Muitas amizades estão sendo criadas, e o tempo de convivência sempre é algo muito bom e proveitoso. A vida no Seminário, cada dia mais, vai se tornando mais fácil, e posso dizer que, a cada dia que passa, já me sinto mais em casa.
Por Gesley Júnio:
Crescimento é, de fato, um misto de construção e desconstrução contínuas, mas, em determinado ponto, o desconstruir não é mais tão brusco. Essa é uma, dentre as muitas formas de descrever minha experiência nesta fase específica do processo formativo, pois ele não termina no Seminário.
Inicialmente, tudo era muito determinante, o que não condizia com a realidade, pois se tratava de uma percepção imatura diante da vida. Para com aqueles com quem partilhava a caminhada, havia uma “leveza” moldada, muitas vezes, pelo desejo de ser visto de um modo, de ser aceito; para com a formação, havia a ilusão de se estar conseguindo seguir bem as propostas feitas para o bem da minha própria construção, mas, no fundo, ainda era conduzido pela insegurança desenvolvida ao longo da minha história de vida, da qual ainda não tinha conseguido superação. Portanto, era escravo das minhas próprias percepções equivocadas, o que teve um preço alto.
Nessa dinâmica apossou-se de mim durante a primeira etapa do Seminário, visto que ingressei em 2015 e fiquei até o início de 2019, uma grande fraqueza pessoal e espiritual, que, por consequência, afetava todas as outras áreas da vida, a ponto de eu ficar inerte diante de tudo que me era oferecido pelo Seminário para me ajudar. Com isso, interpretava todas essas fraquezas como sinais decisivos de Deus acerca da minha vocação, o que me levou a ir embora no início de 2019, como disse anteriormente, pois não considerava ter tempo suficiente para mudar essas condições de fraqueza, dado que já estava no meu segundo ano da Teologia.
Essa demolição, porém, não foi em vão. Passados aproximadamente três anos, tendo vivido uma tal aridez inicial e, pela graça de Deus, experiências que favoreceram minha vivência de Igreja e acompanhamento espiritual, desejei retomar meu processo formativo no Seminário, o que se concretizou com meu retorno em 2022, mas desta vez com um propósito firme de investir nas minhas limitações, para conhecê-las bem e permitir que fossem trabalhadas.
Foi o que fiz, e que já consigo perceber a diferença em relação àquele outro “eu”. Claro, há sempre resquícios, mas que não mais determinam meus passos; são mais como bússola, como a sede que impulsiona para a água. É justamente por isso que o desconstruir, nesta segunda fase, não está tão brusco como disse no início: porque a resistência não é mais a mesma; a rejeição de antes diante de alguma dificuldade dá espaço para a reflexão, o que leva ao discernimento. O medo, que ameaça travar, com esse discernimento, já não tem mais a força determinante de antes, e as relações não são mais determinadas pela necessidade de aceitação.
Em síntese, não posso qualificar essa fase em detrimento da primeira, mas, seguramente, posso qualificar o modo como a estou vivendo, não com ideia de conclusão, ou de que não possa ser melhor, mas justamente porque a experiência de Seminário do agora é construída de modo mais livre, sincera e com oportunidade de se potencializar.
Autores: Ednilson Rocha Silva – Propedêutico
Gesley Júnio Alves Teixeira – 4° Ano da Configuração