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Coração de Jesus: Amor que dá de Beber

Coração de Jesus: Amor que dá de Beber

Por Maycon Cruz:

Na vida da Igreja, outubro é um mês de grande relevância eclesial. Celebramos o mês das missões, que tem por patrona Santa Teresinha do Menino Jesus. Também fazemos memória de tantos outros santos de grande devoção popular como São Francisco de Assis, Santa Teresa de Jesus, São Lucas Evangelista, entre outros. Para nossa Igreja do Brasil, é um mês ainda mais especial, pois é tempo de celebrar a padroeira da nossa nação, a Bem-Aventurada Virgem Maria da Conceição Aparecida. A Igreja também nos convida a cada primeira sexta-feira de cada mês a fazer memória do Sagrado Coração de Jesus. Nesse mês, a partir da encíclica Dilexit Nos do Papa Francisco, daremos continuidade a nossa série de reflexões.

A sede é expressão de um desejo que carece de ser saciado. Todavia, nem sempre conseguimos saciar esse desejo, seja por não termos um pouco de água por perto, seja por negligenciarmos, ou porque não é simplesmente de água que nossa sede carece. No relato do poço e da mulher samaritana no evangelho de São João (4, 7-30), encontramos uma mulher que vai em busca de água, mas tem sede de algo mais profundo, de amor. Porém, naquele dia, a sua caminhada até o poço foi diferente, pois ela se encontrou com Jesus, encarnação do amor divino expresso em um coração humano.

Diante desse encontro, ela até se esquiva. “Usa de desculpas boas e más, para não se abandonar no amor. Tal como a samaritana, – também nos olhamos – para a vida e dizemos ‘como é que vais tirar água deste poço?’” (MENDONÇA, 2016, p. 76). Todavia, o amor que foi dado a ela – e que também é oferecido a nós – consegue tirar água desse poço, pois não nos pede uma tarefa impossível. Antes faz-nos uma proposta: “dá-me de beber, dá-me o que tens e o que não tens, dá-me o que trazes e o que perdeste, dá-me o que és” (MENDONÇA, 2016, p. 75).

Ele não nos pede simplesmente água, Ele pede algo mais profundo, pois “sua sede não se materializa na água, porque não é de água a sua sede, é uma sede maior. É a sede de tocar as nossas sedes, de contatar com os nossos desertos, com as nossas feridas” (MENDONÇA, 2018, p. 20). Ele nos propõe uma entrega total, como somos, pois Ele nos amou a tal ponto dar sua vida pela nossa e nisto se manifesta o amor do seu coração por cada pessoa (Cf. 1Jo 4,9-10).

Jesus não apenas pede que demos de beber a ele, mas nos oferece algo também. Dá-nos uma água que nos sacia e que se torna fonte de vida eterna em nós (Cf. Jo 4,14). “Os primeiros cristãos viam no lado aberto de Cristo esta fonte de onde brota uma vida nova” (Dilexit Nos, n. 96). Pois “no coração traspassado de Cristo estão concentradas, escritas na carne, todas as expressões de amor das Escrituras. Não se trata de um amor simplesmente declarado, mas o seu lado aberto é fonte de vida para o amado; é aquela fonte que sacia a sede do seu povo” (Dilexit Nos, n. 101).

É diante desse coração, manancial de vida e saciedade, que a Igreja nos convida a repousar em cada primeira sexta-feira do mês, relembrando a sua promessa: “Vinde a mim todos vós que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso.” (Mt 11,28). A experiência da mulher samaritana se reflete o cotidiano da nossa vida também. Na tentativa de encontrar sentido e realização para nossas expectativas e projetos de vida, nós nos voltamos para muitas coisas: dinheiro, prazeres, bens, estética, e a vida exibida nas redes sociais.

Nesse sentido, corremos o risco de nos esquecer daquilo que fala ao nosso coração. Jesus não oferece nada de material, mas oferece algo que nos sacia, que é o amor. É o amor do Coração de Jesus que toca a vida da mulher e é esse mesmo amor que deseja tocar as nossas vidas. É diante desse coração transpassado que somos chamados a nos entregar, não como quem tem medo de ser julgado, mas como quem tem sede de ser amado e acolhido.

Santa Teresinha do Menino Jesus é um belíssimo exemplo de alguém que viu no Coração de Jesus uma via para confiar na ação da sua graça e a partir daí habitar nele em um vínculo profundo de amor. (Cf. Dilexit Nos, n. 114). A patrona das missões ensina que o que importa à nossa vida não são as recompensas do esforço humano, ou os méritos próprios que possamos alcançar, tampouco as formas das espiritualidades intimistas – infelizmente tão comuns atualmente. O que verdadeiramente importa para Santa Teresa é o amor de Cristo.

Desse modo, o mérito da questão não está naquilo que podemos fazer para merecer esse amor, mas sim no quanto estamos dispostos a confiar nossa vida ao Coração de Jesus e fazer a experiência de nos saciarmos. Somos por isso, chamados a confiar, confiar que este amor é maior do que tudo que possamos fazer para merecê-lo e de que de nossa parte, resta-nos confiar nele porque só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor do Coração de Cristo (Cf. Dilexit Nos, n. 138).

Sendo assim, a fonte do amor que tantas vezes nos encontramos sedentos, não está em coisas passageiras, mas no Coração de Jesus. Esse amor que se aproxima despretensiosamente se oferece gratuitamente a cada um no cotidiano da vida. Jesus sempre nos chama a um encontro com ele. Não nos prendamos a coisas transitórias, mas nos entreguemos ao amor de Cristo, amor que dá de beber e nos convida “que o sedento venha, e quem o deseja, receba gratuitamente a água da vida” (Ap 22,17).

Portanto, a sede que tanto nos aflige só pode ser plenificada quando nos inebriamos do amor que brota do Coração de Jesus. Nesta primeira sexta-feira do mês, deixemos que nossa sede nos conduza a Cristo e seu Sagrado Coração. Apresentemo-nos diante dele com todas as nossas sedes e fragilidades, nossos desejos e expectativas. Escancaremos o nosso coração para saciar-nos no manancial do seu amor que fala ao nosso coração: “Dá-me do que trazes. Abre o teu coração. Dá-me do que és” (MENDONÇA, 2018, p. 15).

Referências Bibliográficas:

FRANCISCO, Papa. Dilexit nos: carta encíclica sobre o amor humano e divino do coração de Jesus Cristo. Brasília, DF: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Edições CNBB, 2024. (Documentos Pontifícios, 64). ISBN 978-65-5975-456-4.

MENDONÇA, José Tolentino. Elogio da sede. São Paulo: Paulinas, 2018.

MENDONÇA, José Tolentino. A mística do instante: o tempo e a promessa. São Paulo: Paulinas, 2016.

Autor: Maycon Cruz dos Santos- 2° Ano da Configuração

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