O AMOR DE CRISTO NOS IMPULSIONA
Por Pe Darlan Lima – Diretor espiritual da Guarda de Honra:
A sociedade moderna valoriza o desempenho, o sucesso e a aparência. Diz, a todo instante, ser necessário construir uma imagem de ser humano que se apresente verdadeiramente eficiente, capaz de agradar e produzir resultados eficientes. Ao reafirmar isso continuamente, em meio a um cenário de indiferença, tentando agradar para se sentir recompensado, o homem atual acaba por gerar um cansaço emocional. Por isso, se faz necessário compreender o mistério da vida para além da simples produtividade e encontrar o sentido da existência a partir de Jesus Cristo.
Diante da frieza e desesperança em nosso tempo, que faz muitos desanimarem, viverem desencorajados e com medo, somos chamados a ser testemunhas de um amor que não passa. Para fazer isso é preciso partir da experiência de amor no encontro com o Coração de Jesus. Porque, “entrando no Coração de Cristo, sentimo-nos amados por um coração humano, cheio de afetos e sentimentos como os nossos. A sua vontade humana quer amar-nos livremente, e esse querer espiritual está plenamente iluminado pela graça e pela caridade. Quando chegamos ao mais íntimo desse Coração, somos inundados pela glória incomensurável do seu amor infinito de Filho eterno, que já não podemos separar do seu amor humano. É precisamente no seu amor humano, e não afastando-nos dele, que encontramos o seu amor divino; encontramos «o infinito no finito»”(DN 67).
Esta experiência de amor transborda em nossos corações e nos faz caminhar, querer comunicá-la aos outros. Porque ser impulsionado pelo amor de Cristo significa permitir que esse amor vá além de uma ideia abstrata ou apenas emocional. É deixar-se tocar por um amor que se doa, que se entrega até o fim, que acolhe sem exigir perfeição e que convida à transformação interior. “Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo” (Jr 31, 3). Cristo não nos impulsiona com medo ou imposições, mas com um amor que liberta, que restaura e que dá novo rumo à nossa existência.
Quando nos deixamos conduzir por esse amor, deixamos de viver para nós mesmos. Passamos a olhar para o outro com compaixão, enxergando nele um irmão e não uma ameaça ou concorrente. O amor de Cristo nos leva a sair de nossas zonas de conforto e a agir com misericórdia, justiça e verdade. Ele nos impulsiona a perdoar, a recomeçar e a sermos sinais de esperança no mundo.
Não se trata apenas de um sentimento bonito ou de palavras tocantes, mas de uma força real, viva, que transforma vidas. O amor de Cristo é motor que move a missão da Igreja, inspira os gestos de serviço e sustenta a fé nos momentos de dor. Deixar-se impulsionar por esse amor é escolher diariamente caminhar com Cristo, carregar com Ele a cruz do mundo e semear vida onde houver morte, luz onde houver trevas.
Caros irmãos e irmãs, que o amor de Cristo, mais do que nos emocionar, nos mova. Nos impulsione a ser pessoas inteiras, filhos de Deus autênticos, dispostos a amar como Ele amou, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Neste mês dedicado às missões seja o amor de Cristo o nosso testemunho missionário.
MARGARIDA: FLOR DO TEMPO E DA ETERNIDADE
Por Sílvio Gomes:
Os santos são filhos de seu tempo: estão dentro da cultura de sua época, conhecem as tendências, vivem em casas comuns e, em alguns casos, gostam até mesmo das mesmas comidas que nós. Compreender isso nos ajuda a perceber o chamado universal à santidade que Deus faz a cada um de nós. No completo anonimato, aquela pessoa que está perto de nós, cujas fraquezas observamos, pode trilhar esse caminho sem que em sua cabeça haja uma auréola. Por isso, não se nasce santo, mas torna-se santo, num processo de superação contínuo de si mesmo, no qual o cotidiano, o transitório, pouco a pouco, vai ganhando sabor de infinito. Através de sua correspondência ao projeto de Deus, o santo é gestado por essas duas realidades (eterna e material) para a plena comunhão de amor, e por isso podemos dizer que ele é filho do tempo e da eternidade.
A grandiosidade dos amigos de Deus não está na quantidade de prodígios realizados, muito menos das visões que tiveram, mas na capacidade de se deixarem forjar por Deus a partir do solo de sua vida concreta, sendo capazes de se tornarem seres fronteiriços, capazes de testemunhar o invisível diante do visível e o visível diante do invisível. Tudo isso nos ajuda a compreender a profundidade da riqueza que foi a vida de Santa Margarida Maria Alacoque, monja visitandina francesa que viveu no século XVII, popularmente conhecida como “a vidente do Coração de Jesus”.
Nascida aos 22 de julho de 1647, em Borgonha, já aos 4 anos de idade, apresentava o seu desejo de se consagrar totalmente ao Senhor, o que a fez passar por uma profunda crise vocacional aos 17 anos, quando a mãe e os irmãos queriam obrigá-la a se casar. Por alguns anos a dúvida sobre qual caminho seguir apertou-lhe fortemente o coração: de um lado, gritava a voz da vida comum com a qual ela já estava se familiarizando e se mostrava como uma ótima saída para conseguir recursos suficientes para cuidar da mãe enferma, enquanto do outro, chamava a voz da vida religiosa que lhe pedia para se tornar imagem da Igreja, esposa de Cristo, através da total consagração.
No ano de 1671, Margarida toma sua decisão definitiva e ingressa como postulante no Mosteiro da Visitação, de Paray-le-Monial. Ao professar seus votos, adicionou o nome “Maria” ao seu, por causa das experiências místicas que tinha com Nossa Senhora muito antes de ingressar na vida religiosa. Apesar do crédito das superioras do convento, a santa sofreu uma forte oposição dentro da comunidade à medida que o burburinho de tais experiências aumentava, chegando a ser alvo de diversas humilhações por parte das irmãs que moravam com ela. Entretanto, nunca esmoreceu. Margarida perseverou na Ordem até o final de sua vida, preservando o sorriso nos lábios e mantendo-se fiel na vida de oração e na prática de penitências.
A partir de 1673 até a sua morte, ela recebeu visões de Nosso Senhor que lhe pediu uma devoção ao seu divino Coração. Uma das aparições mais famosas é a de 1675, quando ele lhe revela seu coração e diz: “Eis o coração que tanto amou os homens, que nada poupou até se esgotar e consumir para testemunhar-lhes o seu amor; e em reconhecimento não recebe da maior parte deles, senão ingratidões por meio das irreverências e sacrilégios, tibiezas e desdéns que usam para comigo neste Sacramento de amor. E o que mais me custa, é tratar-se de corações a mim consagrados os que assim me tratam”. Apoiada por seu diretor espiritual, a partir de suas experiências místicas, o culto ao Sagrado Coração de Jesus se espalhou por todo o mundo, sendo fonte de graça para os fiéis devotos.
Santa Margarida faleceu no ano de 1690 e foi canonizada pelo papa Bento XV em 1920. Em seu túmulo está gravada a seguinte frase: “Quero que me sirvas de instrumento para atrair corações ao meu amor”. E de fato ela o foi, não apenas por suas vivências místicas que ajudaram a superar o exagerado rigorismo religioso de sua época, levando as pessoas a redescobrir a grandiosidade do amor de Deus através das riquezas do misericordioso coração de Jesus, mas também através do seu testemunho de vida, movido pelo desejo de unir-se incondicionalmente a Cristo através da vida de oração, vivendo bem e com fidelidade sua vocação e suportando com amor e paciência as diversas provações de sua vida — coisas possíveis a todos os que desejam crescer na santidade.
Tal bela flor plantada no solo do mundo, depois de ser nutrida por este chão e cuidada pelo Divino Jardineiro, não floresceu no jardim de Deus. Mas não floresceu sozinha: foi causa de florescimento de tantas outras flores que muito encantam os olhos do Senhor por sua tamanha beleza, mostrando-se filha de seu tempo e da eternidade.
ESPERANÇA
Por Pe. Mateus Correia:
Sou o clarão da cela
Escura como a alma,
Incendida pela vela
Inconstante como a calma.
Sou o brilho dos olhos
Encharcados de emoção
Irrigados pelos sonhos
Em perene oração.
Sou a estrela matutina
Que rompe o terror do breu
Trazendo o novo à sina
Sentido ao que se perdeu.
Sou nativa da sequidão
Da aridez da existência
Mandacaru, anunciação
Da chuva, providência.
Sou a alma da mãe amada
Ao pé da porta, em agonia
Que pensa ver na estrada
A volta do filho e da alegria.
Sou as mãos do homem forte
Que labuta, luta na lida
Trabalhando a própria sorte
Sonhando vencer na vida.
Sou a força do doente
Pequena, mas operante
No pobre combatente
Sagrada, santificante.
Sou o contraste com a dor
Do fracassado, desvalido
Transformando em amor
O coração endurecido.
Sou a certeza da volta
Da paz em meio à guerra
A espera da revolta
Do bem sobre o mal na terra.
Sou a vida em meio à morte
Em meio ao azar, eu sou a sorte
Em meio à chuva eu sou a dança
Em meio ao caos, eu sou bonança
Sou a presença do ausente
Ao feliz, fiel e crente
Sou o alcance no coração
Do que pedido na oração
Sou a alegria do mortal
Ao insosso eu sou o sal
Sou a visão, a vida, o verde
A saciedade, a água, a sede
Sou o sustento da velhice
A diferença na mesmice
Sou imutável, e sou mudança,
Sou eterna, e sou criança:
Eu sou a Esperança!
FRANCISCO DE ASSIS: CORAÇÃO QUE AMA O AMOR
Quem vê o pobrezinho de Assis, certamente vê um coração inflamado pelo amor de Deus. Seu desejo incessante pela união com Cristo o impulsionava a ser missionário, a viver e testemunhar com a própria vida que vale a pena ser um instrumento da paz e do amor nas mãos do Senhor. Francisco é um dos santos escolhidos para ser patrono da Guarda de Honra. Mas qual teria sido a razão da escolha?
Conta-se que certo dia, Francisco, pôs-se a chorar expressivamente. Então, um camponês perguntou: Que aconteceu, irmão, por que estás chorando? O irmão respondeu: “Meu irmão, o meu Senhor está na Cruz e me perguntas por que choro? Quisera ser neste momento o maior oceano da terra, para ter tudo isso de lágrimas. Quisera que se abrissem ao mesmo tempo todas as comportas do mundo e se soltassem em cataratas e os dilúvios para me emprestarem mais lágrimas. Mais ainda, que juntemos todos os rios e todos os mares, não haverá lágrimas suficientes para chorar a dor e o amor de meu Senhor crucificado. Quisera ter asas invencíveis de uma águia para atravessar as cordilheiras e gritar sobre as cidades: o Amor não é amado! O Amor não é amado! Como é que os homens podem amar uns aos outros e não amar o amor?”
Amar o Amor não amado é nossa grande missão. Patrono e farol, Francisco apresenta como devemos guardar o Coração de Jesus: com um grande amor que alcança a vida de nossos irmãos, lá onde o Deus é realmente ultrajado.
SÉRIE DILEXIT NOS: AMOR QUE DÁ DE BEBER
Por Maycon Cruz:
A sede é expressão de um desejo que carece de ser saciado. Todavia, nem sempre conseguimos saciar esse desejo, seja por não termos um pouco de água por perto, seja porque não é simplesmente de água que nossa sede carece. No relato do poço e da mulher samaritana no Evangelho de São João (4, 7-30), encontramos uma mulher que vai em busca de água, mas tem sede de algo mais profundo, de amor. Porém, naquele dia, a sua caminhada até o poço foi diferente, pois ela se encontrou com Jesus, encarnação do amor divino expresso em um coração humano. Leia o texto completo aqui.
ENTREVISTA:
Como o Coração de Jesus ajuda a viver sua missão?
No mês das missões, o Boletim Mensal entrevistou a sra. Maria do Rosário Dupim, membro da Guarda de Honra e paroquiana da Basílica do Sagrado Coração de Jesus de Diamantina. Ela compartilhou conosco sua experiência com o amor de Jesus em sua vida.
BOLETIM: Dona Maria, estamos no mês das missões e a devoção ao Coração de Jesus de algum modo nos ajuda a viver nossa missão. Como a senhora sente que o Coração de Jesus te ajuda a viver sua missão?
MARIA: Sim, concordo muito com isso. O Coração de Jesus me ajuda a viver minha missão desde criança. Aprendi essa devoção com minha mãe que era muito devota e participava da Guarda de Honra. Desde criança sou devota do Coração de Jesus. Sinto que ele me ajuda a viver minha missão na medida que Ele me dá força para perseverar, Ele está do meu lado o tempo todo, me acompanhando, sendo minha companhia.
BOLETIM: E a senhora indica a Guarda de Honra a outras pessoas, amigos e familiares?
MARIA: Sim, indico, inclusive, muitos amigos meus entraram por convite que eu fiz. Os familiares, por morarem muitos longe de Diamantina, nem todos fazem parte da Guarda. Mas rezo por todos, igualmente.
BOLETIM: Então a missão da Guarda de Honra se expande com a senhora, né. A Guarda de Honra te ajuda a viver o batismo e a senhora ainda leva essa graça a outros, convidando-os a viverem também.
MARIA: Sim, exatamente. Umas 5 pessoas que eu convidei já ingressaram na Guarda. É muito gratificante mesmo poder levar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que tanto me ajuda, a outras pessoas.
BOLETIM: Dona Maria, para terminarmos, tem alguma história específica, alguma graça alcançada pela devoção ao Coração de Jesus que a senhora gostaria de partilhar?
MARIA: Perdi meu marido há poucos anos. Ele era tudo para mim. Quando adoeceu e foi para o hospital, eu tenho a certeza de que quem me deu forças para enfrentar toda aquela dor (e ainda me dá essa força) é o Coração de Jesus. E tem sido assim, tudo o que eu preciso, peço ao Coração de Jesus e Ele me ajuda. Assim que meu marido foi para o hospital, eu senti no meu coração que ele estava para partir. Acordei de manhã e rezei pedindo a Jesus que o ajudasse, que concedesse força para suportar tudo e ficar um pouco mais comigo. Quando cheguei ao hospital no horário da visita (às 16h, no meu horário de Guarda), os médicos me disseram que de manhã ele tinha sofrido um AVC grave, mas que surpreendentemente estava bem. Eu sei que foi Jesus quem o ajudou, tenho certeza disso. Depois desse dia, ele voltou para casa e ainda ficou mais uns 8 meses comigo, até que retornou para Deus. Sou muito grata pelos dias que Deus me deu com ele depois dessa melhora!
BOLETIM: Que belo testemunho, Dona Maria! Que o Coração de Jesus, fonte inesgotável de misericórdia, continue lhe dando força na caminhada!