Por Pe. Darlan Lima
O nosso tempo é marcado por grandes incertezas, de tal forma que vários autores falam dele através de uma imagem líquida, sem forma permanente. Tudo aquilo que era considerado referência passou a ser, quando não é negado, ao menos questionável. O ser humano, diante disso, se vê muitas vezes sem um ponto no qual possa ancorar a sua vida. Muitas vezes ele não sabe o que fazer nem mesmo o que pensar. Diante disso, duas possibilidades perigosas podem apresentar-se como uma solução: a aceitação da indiferença diante de todas as possibilidades ou a afirmação radical de realidades que não se sustentam mais.
A dificuldade atual que enfrentamos é a de pensar que tudo se resume apenas a duas possibilidades: ou tudo ou nada. Mas na verdade, o Coração de Jesus nos mostra a única realidade que permanece: o amor misericordioso divino. Esse amor é capaz de nos fazer permanecer em meio às inconstâncias do nosso tempo. E o faz não através de uma vida líquida ou rígida, mas através da sua capacidade de tocar a nossa realidade com a sua misericórdia. Deus é capaz de nos mostrar a gravidade do pecado sem nos destruir. Jesus nos revela que Deus é um Pai amoroso que orienta o nosso agir e nos corrige, sempre com o objetivo de nos salvar. Ele nos convida a nos aproximar dele não por medo, mas por amor. Somos chamados a uma vida nova, a partir da experiência de sua misericórdia. A sua misericórdia nos dá uma vida nova, pois Ele não tem nenhuma dificuldade de tocar e curar as nossas misérias.
São belas e profundas a palavras de São Bernardo: “o que a mim me falta, eu extraio das entranhas do Senhor, pois estas transbordam misericórdia e não faltam fendas pelas quais ela passa. Trespassaram-lhe as mãos e os pés, perfuraram-lhe o lado com uma lança. E por essas fendas posso extrair mel da pedra e óleo da rocha duríssima, isto é, posso saborear e ver quão suave é o Senhor […] O ferro trespassou-lhe a alma, e aproximou-se do seu coração, para que não deixe já de saber como se compadecer das minhas fraquezas. O segredo do seu coração é patente através das chagas do corpo, é patente o grande sacramento da piedade, são patentes as vísceras de misericórdia do nosso Deus” (Sermones in Cant. 61, 4).
Como é bom descobrir esta fonte de misericórdia, saber que não estamos abandonados às nossas limitações, que podemos beber da fonte de onde brota esta misericórdia. O Papa Francisco nos recorda: “a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras. É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor « visceral ». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão” (Misericordiae Vultus 6).
Caros irmãos e irmãs, aproveitemos este tempo de conversão e voltemos o nosso coração para o Senhor, mergulhemos no Coração de Jesus, fonte de misericórdia, deixando-nos renovar por Ele. Façamos a experiência do salmista que vivia esta realidade, como podemos ver nas suas palavras: “O Senhor é bom, e eterna, a sua misericórdia” Sl 100. Palavras que deveriam estar gravadas em nossos corações de maneira indelével, estimulando-nos sempre a procurar este coração que tanto nos ama. Não devemos ter medo, mas confiança na misericórdia e no amor renovador do Coração de Jesus.
Que a Virgem Maria, Mãe de Misericórdia, nos ajude neste tempo de conversão para podermos celebrar as alegrias da vida nova em Cristo Jesus.
Autor: Pe. Darlan Lima- Diretor Espiritual da Guarda de Honra
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