Gabriel Ferreira e Igor Neves
“Eu tenho medo de não ter nem uma vida nem uma morte que signifique alguma coisa” John Green.
Quem tem criança em casa conhece bem a fase dos porquês. É talvez a expressão mais fidedigna do como o ser humano encara a sua existência. Procurar motivo, razão, finalidade em uma determinada ação, escolha ou circunstância, é característico de cada pessoa, e às vezes não nos damos conta disso. É até engraçado quando muitos querem circunscrever os limites entre fé e razão, como se todo o mistério de nossa existência se comportasse precisamente nessas categorias. Quem minimamente leva a sério a existência, deparara-se uma vez ou outra com estas perguntas: Por que estou aqui? Para onde vou? Por que existo? E entendem que o princípio de resposta a estas perguntas nos abarca por inteiro.
Fundamentalmente, todo ser humano é convidado a responder à seguinte questão: existe um sentido para a vida e para tudo o que existe? É possível abordar esse problema de duas maneiras. Em primeiro lugar, na vida cotidiana, estamos imersos em uma correria sem fim, seja por conta do trabalho, dos estudos, das responsabilidades com a família, entre outras coisas. De certa forma, a vida parece um tanto monótona. O sentido da existência aqui, está relacionado com aquela motivação que nos faz levantar todos os dias com disposição para encarar o que nos for apresentado. A longo prazo, o sentido da vida são as metas e sonhos pelas quais nos esforçaremos ao longo da nossa existência. Claramente, aquilo que dá significado à nossa vida depende, e muito, daquilo em que acreditamos. As nossas escolhas serão todas orientadas por nossas crenças. Por isso o sentido da vida nessa perspectiva, é uma realidade que varia de pessoa para pessoa.
Em segundo lugar, existe uma outra maneira de ver essa questão. O sentido da vida pode ser algo objetivo e que de alguma maneira envolve a existência de todos os seres humanos ao mesmo tempo. Nessa perspectiva, estamos pensando no porquê as coisas são como são, ou no porquê existimos. Buscar as razões, isto é, se fazemos parte ou não de um projeto maior, se temos ou não uma missão, se somos seres à deriva no universo ou sustentados por um Criador, são questões que instigaram muitos filósofos ao longo do tempo. O conhecimento recente da Astronomia tem tornado essa discussão um tanto interessante. Estima-se que só em nossa galáxia há 100 bilhões de estrelas, distantes a trilhões de quilômetros entre si, e uma infinidade muito maior ocupa o universo a ponto de equivaler-se aos grãos de areia que há nas praias. Dentro da vastidão do universo, as condições são quase surreais para a existência de vida. Nós seres humanos, ao mesmo tempo que somos constituídos da mesma matéria das estrelas, somos os únicos organismos com capacidade de pensar de um modo significativamente evoluído, e ainda contemplar o universo a nossa volta.
Neste complexo sistema em que nos encontramos, seria dispendioso acreditar que todo o mistério da nossa existência é um mero fruto do acaso. Do ponto de vista da fé, consola-nos, no entanto, o salmista ao afirmar que: Deus “fixa o número de todas as estrelas e chama a cada uma por seu nome” (Sl 146, 4). Teologicamente, a visão predominante é de que todo o universo é obra da bondade de Deus, e cada criatura em sua particularidade é expressão do amor divino. Quanto a nós seres humanos, cabe a tarefa de colaborarmos com esse Criador, para que a caridade seja a base de toda a relação que mantemos com a realidade. Não é magnífico que exista um sentido para cada ser humano neste mundo, que diz respeito a uma decisão particular, cuja responsabilidade não podemos delegar a outra pessoa?
Do ponto de vista teológico o homem é constitutivamente pessoa, chamada à existência para uma vida feliz. Essa busca incessante pela felicidade chega ao limite do paradoxal, porque é tão forte que é adversária a tudo quanto lhe contraria, mesmo à própria vida, se lhe parecer. Então se uma criança te perguntar por que está aqui? Não tenha receio de dizer: Deus nos colocou aqui para que cada um possa ser feliz, e tal felicidade está intimamente relacionada ao fato de que Ele nos ama e é a pessoa mais interessada em nos ver bem.
Em sentido estrito, podemos dizer que descobrir o caminho para a própria felicidade perpassa a realização pessoal. Em outras palavras, você não está aqui por acaso, não é uma anomalia, um acidente de seus pais. Descobrir a finalidade exclusiva de sua existência pode ser a aventura mais contagiante que queira fazer, permitindo a si próprio escapar do tédio de que sua existência não signifique coisa alguma.