No ano de 1220, o jovem frei Fernando de Bulhões teve de lidar com uma grande reviravolta em sua vida. Após entrar na igreja da Santa Cruz de Coimbra (Portugal), ele se depara com os restos mortais de cinco missionários franciscanos que foram martirizados em Marrocos. A partir daí, um forte impulso missionário se apodera dele; Fernando deseja dar também a sua vida pelo Evangelho e por isso abandona a ordem dos Agostinianos e se torna Franciscano. Agora não mais usa seu nome de batismo, mas passa a se chamar Antônio, para imitar o santo anacoreta egípcio.
Faleceu no ano de 1231, aos 36 anos de idade, em Arcella (Itália), nas proximidades da cidade de Pádua, onde havia morado por tanto tempo. Antônio não fora mártir no sentido comum da palavra, mas, segundo São Boaventura, do desejo, pois no seu coração ardia a mesma chama do amor que crepitava no dos protomártires franciscanos. Não derramou o seu sangue, mas havia dedicado toda a sua vida ao anúncio do Evangelho. Tornara-se famoso por seus sermões, que atraíam multidões ansiosas para ouví-los. Sua fama de santidade era tão grande, e tão crescente era o número de pessoas que vinham visitar seu túmulo que, após 11 meses de sua morte, o papa Gregório IX resolveu proclamá-lo santo no dia 30 de maio de 1232. Séculos mais tarde, no ano de 1946, o papa Pio XII o proclamou “doutor da igreja universal”, com o título de Doutor Evangélico.
A devoção a Santo Antônio é uma das mais fortes em todo o Brasil. Tal fato é resultado da colonização portuguesa, que fundou cidades e ergueu capelas para homenagear o santo de mesma nacionalidade. Sua presença no imaginário popular como santo casamenteiro e como intercessor poderoso também colaboram para tal. Pais o homenageiam dando aos filhos o seu nome, as trezenas arrebatam multidões e suas imagens e quadros estão presentes na maioria dos lares. Antônio, assim como no seu tempo, é o santo do povo.
Mas a verdadeira vivência da devoção antonina não pode se resumir apenas a homenagens e rezas. São Francisco ensinava aos seus filhos que a melhor forma de se pregar o Evangelho é com as boas obras, e Santo Antônio não ficou indiferente a isso. Em um de seus sermões ele diz: “A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras”.
A voz de Antônio continua a ecoar nos dias atuais. Seus exemplos nos convidam a um contato mais íntimo com a Palavra de Deus, ao abandono das coisas supérfluas, a prática da caridade e a busca incessante pelo que é eterno. Mais que um poderoso “fazedor” de milagres, que um santo casamenteiro, Antônio é voz profética que, assim como no seu tempo, nos estimula a viver a humildade, a superar o orgulho, a ganância, a impureza e tudo quanto nos impede de chegar a Cristo, de vê-Lo no irmão e de colocá-Lo como centro de nossas vidas.
Há muito o que se aprender com sua vida, mas suas palavras são incômodas, pois também denunciam a injustiça e a hipocrisia. Num contexto onde impera o indiferentismo, sua figura emerge para mostrar que o Cristão não pode ser covarde e se calar diante do mal e da exploração dos indefesos; que não se pode ficar de braços cruzados diante da miséria e do sofrimento do próximo. Os hipócritas e os falsos religiosos, ele ensina, são seres que se apequenaram e que se bestializaram.
Que ele nos ajude a trilhar o caminho em direção a Cristo, a sermos fiéis testemunhas do Evangelho não só com nossas palavras, mas também com nossos gestos, sempre guiados pelo amor, sustento de nossa vida e de nossa fé.