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História

História

O Seminário Provincial Sagrado Coração de Jesus foi criado em 1864 por Sua Excelência Reverendíssima Dom João Antônio dos Santos, primeiro bispo da recém-criada Diocese de Diamantina, tendo como primeiros seminaristas os que já estavam no Seminário de Mariana e que pertenciam ao território da nova Diocese. Ainda não tendo sede própria, o Seminário Episcopal funcionou na Casa do Contrato com o nome herdado do antigo educandário de Diamantina “Ateneu São Vicente de Paulo”, indo o Bispo residir no Casarão da Glória até a construção do novo Seminário.

Recebendo do Imperador Dom Pedro II licença para aplicar a verba destinada, até então, na construção de um novo Palácio, ao seu Seminário, Dom João adquire um terreno na cidade alta de Diamantina e começa a nova construção. O primeiro esteio foi fincado no dia 16 de janeiro de 1865, sob direção do construtor francês Louis Felix Guisard. Enquanto isso, Dom João trabalhava na construção intelectual e humana de sua nova Casa de Formação, conseguindo por intermédio de seu pai e amigo, Dom Ferreira Viçoso, bispo de Mariana, que os padres da Congregação da Missão, conhecidos como Lazaristas, assumissem a formação de seu novo Clero.

Assim, no dia 12 de fevereiro de 1867, chegaram em Diamantina, vindos do Caraça, os dois primeiros Padres franceses, os Lazaristas Francisco Xavier Bartolomeu Sípolis, como reitor, Afonso Bec, para auxiliá-lo nos trabalhos. No mesmo ano, no dia 19 de julho, os novos formadores e seminaristas subiram a ladeira e se estabeleceram no novo Seminário, ainda em processo de construção; essa data, 19 de julho de 1867, é tida como a data oficial da fundação do Seminário.  

Passados alguns anos, após a queda de um raio no recreio do Seminário sem deixar feridos, Padre Bartolomeu Sípolis, assíduo devoto do Coração de Jesus, interpretou o ocorrido como um milagre e propôs ao Bispo que consagrasse o Seminário ao Coração de Jesus. Sendo assim, a partir de então, o Seminário São Vicente de Paulo passou a se chamar Seminário Sagrado Coração de Jesus e, como mais um sinal de agradecimento, propôs também a construção de um majestoso templo em honra do tão grande Patrono. A igreja de pedra do Coração de Jesus teve sua pedra fundamental lançada no dia 16 de março de 1884, sob projeto do Lazarista, Padre Júlio Clavelin.

Além da reitoria do Seminário, Padre Bartolomeu Sípolis fundou em Diamantina uma casa de missão para a Congregação dos Lazaristas, traduziu diversos livros, criou confrarias de fiéis e iniciou o cultivo de uvas e a produção de vinho em Diamantina. Depois de 19 anos de trabalho, deixou a reitoria do Seminário a cargo de seu irmão de sangue, o Padre Lazarista Miguel Maria Sípolis, que assumindo a reitoria em 1886, deu continuidade aos trabalhos iniciados pelo seu irmão. Padre Miguel Sípolis, grande intelectual e de renomado saber cultural, trouxe para o Seminário de Diamantina várias obras vindas da Europa, muitas delas editadas antes mesmo do descobrimento do Brasil, dando início assim à Biblioteca do Seminário Episcopal, que foi sendo cada vez mais enriquecida ao longo dos anos. Coube a ele também a finalização da Igreja de pedra do Coração de Jesus, que se deu em 1889. O próprio Padre Miguel foi à França fazer a compra das imagens, vitrais, objetos litúrgicos e paramentos que adornariam o templo, que foi solenemente abençoado na manhã do dia 6 de janeiro de 1890, por Dom João Antônio dos Santos.

Como sucessor do Padre Miguel Sípolis, chegou a Diamantina o Padre italiano Aquiles Berardini que, dando continuidade ao enriquecimento cultural dos seminaristas iniciou nesta veneranda casa, as aulas de música, sendo a primeira delas em 1895. Para coroar tal feito, em 1899, o renomado músico Padre Luiz Boavida, fundou a Banda do Seminário, que trouxe um novo ar para as festas e comemorações, não só religiosas, de Diamantina. Em 1905, graças aos esforços do então Bispo de Diamantina, Dom Joaquim Silvério e do reitor Padre Henrique Lacoste, o curso do Seminário foi equiparado à Ginásio Nacional, fazendo com que o Seminário passasse a ter grande influência na sociedade mineira. Porém, em 1911 com a Lei Rivadávia Correa, de cunho positivista, o Seminário perdeu essa equiparação e deixou de ser reconhecido civilmente, o que não afetou em nada a qualidade do ensino, mas, do contrário, passou a ser cada dia mais respeitado. Em compensação a esse ocorrido, no mesmo ano o Seminário produziu 20 mil garrafas de vinho que foi muito bem apreciado pelos especialistas; e além disso, foi instalada no a luz elétrica, para aumentar a felicidade de todos.

Em 1914, chega a Diamantina o Padre francês Vicente Peroneille, porém, logo em seguida teve que regressar à Europa para servir na I Guerra Mundial, retornando somente em 1918. Nesse intermédio, em 1917, a Diocese foi elevada à Arquidiocese e, em 1921, a igreja do Sagrado Coração foi elevada à dignidade de Basílica Menor, sendo a primeira igreja mineira a receber esse título. Seguindo o itinerário histórico do Seminário, em 1929, chega em diamantina para assumir a reitoria, o Padre mineiro José Ferreira Gomes, grande conhecedor da Física e, nesse Seminário, concluiu sua invenção; um aparelho para aquecimento de água, o jofêgo. Este grande sacerdote fez funcionar, também, o primeiro rádio em Diamantina, o que muitos já haviam tentado sem nenhum resultado positivo.

Já no ano de 1931, sob a reitoria do belga, Padre Egídio Heurotte, o primeiro prédio do Seminário estava em situação bem precária, foi então que, com o apoio de Dom Joaquim, foi demolido e se iniciou a construção do novo Seminário. A obra só seria concluída na reitoria do padre José Avelar, que construiu também uma quadra de basquete, o campo de futebol, fundou a tipografia do Seminário e reestruturou a banda. Atualmente, essa é a ala mais antiga do Seminário, localizada à extrema direita do prédio, ligado à basílica por um pequeno passadiço. Continuando as ampliações e melhoramentos na estrutura da casa, o Seminário foi sendo construído aos poucos. Em 1952, na troca da reitoria do Padre Manuel Pereira para o Padre José Pires de Oliveira, a parte esquerda do prédio estava quase concluída, mas por causa de um longo período de chuva, no dia 8 de fevereiro, a construção veio abaixo, destruindo em poucos minutos o que em anos havia sido pensado. Assim, ao assumir, de fato, a reitoria no dia 14 de fevereiro, o Padre José Pires logo iniciou os trabalhos para o recomeço da obra. Por inspiração divina, criou a “Associação dos Amigos do Seminário” angariando fundos para as obras; foi nesse período, também, que o Governador do Estado, o Dr. Juscelino Kubitscheck fez uma visita ao Seminário, onde há 40 anos atrás havia ingressado como aluno, fazendo uma generosa contribuição, o que permitiu que a obra fosse concluída em 1954.

O frutuoso período dos Lazaristas seguiu até a reitoria do Padre José Isabel, último Lazarista a conduzir o Seminário. Tudo começou quando, em 1961, o então Bispo de Diamantina Dom Geraldo de Proença Sigaud, em uma ordenação na basílica, condenou ferrenhamente a Nova Teologia francesa, da qual muitos Lazaristas eram adeptos. Para continuar o descontentamento, Dom Sigaud, colocou alguns seminaristas ligados ao movimento tradicionalista TFP, para serem seus olhos no Seminário, serem o “fermento na massa” como dizia ele. Esse período de tensão perdurou até 1964, quando a situação se complicou ainda mais. Em maio desse ano, com a revolução militar, Dom Sigaud determinou que os seminaristas fossem receber os militares enviados para Diamantina na estação de trem, porém, alguns, em sinal de revolta, rasgaram suas batinas e penduraram nas janelas do Seminário.

Concomitantemente ao ocorrido, Dom Sigaud recebe a informação da chegada de uma carta no Seminário do Lazarista revolucionário, Padre Francisco Lage que, no ano seguinte seria preso e exilado. Nisso, Dom Sigaud exige que seis militares, acompanhados do Monsenhor João Tavares, façam uma busca no Seminário na tentativa de encontrar qualquer vestígio de comunismo. Essa situação desconfortante culminou na expulsão definitiva dos Lazaristas da Diocese, que se deu no dia 15 de junho de 1964. Para completar o desgosto dos filhos de São Vicente, o Seminário, dias depois, foi solenemente exorcizado pelo Monsenhor Tavares. Após esse triste ocorrido, assumiu a reitoria o Padre Paulo Vicente de Oliveira, primeiro Padre secular a assumir a reitoria após 97 anos de formação Lazarista. Mesmo com as grandes dificuldades, Padre Paulo Vicente era um grande homem e excelente educador, fazendo com que, rapidamente, as coisas retornassem ao seu curso normal. Alguns anos mais tarde, já na reitoria do Monsenhor Otacílio de Sena Queiroz, Dom Sigaud, vendo os conflitos gerados pelos seus amigos tradicionalistas, chega ao discernimento que o Seminário não era lugar para extremistas, dispensando, assim, os seminaristas que ele mesmo havia recrutado.

No período que sucedeu a década de 70, quando os resultados do Concílio Vaticano II começavam a aparecer, houve uma enorme queda no número de vocações. O número de seminaristas diminuiu tanto que, por um período, o curso de Teologia foi transferido para o Seminário de Mariana, ficando em Diamantina somente 23 seminaristas, número nunca registrado anteriormente. Isso fez surgir na diocese um movimento de animação vocacional e, em 1979 foi criada a primeira equipe que, futuramente, seria chamada de “Pastoral Vocacional”. A década de 80 se passou sem ordenações e o Seminário só começou a superar a crise na reitoria do Padre Geraldo Borges.

No período da reitoria do Padre Romualdo Kujawski, em 1995, Dom Paulo Lopes de Faria, então Bispo de Diamantina, retomou a tradição de enviar seminaristas para estudar em Roma e comporem o corpo docente do Seminário. Sob esta mesma reitoria, a Basílica, que era capela do Seminário passou a ser paróquia, tendo o Padre Paulo Henrique, na época, reitor do Seminário Menor, como seu primeiro pároco. Assim, a história seguiu seu curso até onde estamos hoje…155 anos de história, 33 reitores e centenas de padres, bispos, um cardeal e inúmeras personalidades formadas nessa “Sementeira de Valores” que é o Seminário de Diamantina. 

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