Na última sexta-feira, 14 de novembro, foram apresentadas as monografias dos seminaristas que concluíram a etapa do Discipulado. A manhã foi marcada por grande profundidade intelectual e formativa, oferecendo a todos a oportunidade de prestigiar trabalhos desenvolvidos com dedicação e rigor ao longo de todo o ano. Os seminaristas expuseram temas fundamentais da filosofia, revelando maturidade reflexiva e sensibilidade diante dos desafios contemporâneos.
O seminarista Douglas Roberto apresentou um estudo voltado para a reflexão moral em Immanuel Kant, destacando a longa tradição filosófica que discute a liberdade humana e seus limites. Em seu texto, Douglas recorda que a questão da moralidade, inserida na filosofia prática, sempre esteve no centro do debate sobre se o ser humano é realmente livre ou se está determinado. Nesse contexto, Kant contribui decisivamente ao articular liberdade e determinismo por meio da distinção entre fenômeno e númeno. Para ele, embora o homem empírico esteja submetido à causalidade natural, como ser racional é capaz de agir segundo o dever. A razão prática exige que o sujeito se considere livre para agir moralmente. Assim, o trabalho discute como um ser condicionado pelas leis naturais pode, ainda assim, ser considerado livre, segundo o pensamento kantiano.
O seminarista Farley Victor desenvolveu uma análise aprofundada da teoria mimética de René Girard (1923–2015), autor reconhecido como um dos grandes intérpretes da condição humana. Farley destaca que, para Girard, o desejo não é espontâneo, mas imitativo: desejamos o que o outro deseja, e o modelo do desejo pode se tornar simultaneamente um obstáculo à sua realização. Essa dinâmica gera rivalidades profundas, podendo desencadear o que Girard chama de “violência metafísica”, uma rivalidade que ultrapassa contextos individuais e pode alcançar sociedades inteiras. Nesse sentido, Farley sublinha a importância de reconhecer a “mentira romântica” do desejo autônomo. A conversão — entendida como reconhecimento do orgulho e da ilusão romântica — torna possível a personalização, isto é, a compreensão de si e do outro em perspectiva universal, abrindo caminho para a reconciliação entre os homens e para uma convivência mais autêntica.
A monografia de Lucas Ribeiro, intitulada “O Valor do Heroísmo na Sociedade Contemporânea: Uma Leitura a partir das Teorias de Joseph Campbell”, investigou a permanência e a relevância das narrativas heroicas na cultura atual. Lucas analisa o herói como figura simbólica que articula valores, inspira identidades e orienta escolhas éticas. O percurso heroico, portanto, não é apenas literário ou mitológico, mas possui significado antropológico profundo, representando processos interiores que continuam a moldar a subjetividade moderna. Mesmo em um mundo altamente tecnológico e marcado pelo imediatismo, as narrativas heroicas permanecem porque respondem a necessidades humanas permanentes: encontrar sentido, superar limites e contribuir para algo maior que o próprio indivíduo. As histórias de heróis mostram caminhos onde parece não haver saída e fortalecem a ideia de que cada pessoa, à sua maneira, pode viver uma jornada transformadora. Assim, Lucas conclui que o heroísmo não pertence apenas ao passado: ele é uma necessidade presente, que inspira, motiva e orienta a ação humana.
Por fim, o seminarista Victor Gabriel apresentou seu estudo sobre a Filosofia da História em Georg Wilhelm Friedrich Hegel, investigando a relação fundamental entre Espírito, Liberdade e História. Segundo Victor, para Hegel a missão da filosofia consiste em conceber a Razão como fundamento da realidade. O Espírito, enquanto totalidade dos eventos e experiências vividas pelo indivíduo, realiza seu percurso histórico em direção ao pleno autoconhecimento. A liberdade — entendida como autodeterminação da vontade subjetiva integrada à vontade universal — constitui o telos substancial do Espírito. Assim, o progresso histórico não é mero acúmulo de fatos, mas o processo pelo qual o Espírito se torna consciente de si mesmo e realiza a liberdade na história humana.
As apresentações evidenciaram não apenas o esforço acadêmico dos seminaristas, mas também a profundidade com que cada um buscou dialogar com questões essenciais da existência humana. Ao integrarem filosofia, experiência formativa e vocação, seus trabalhos refletem a riqueza do processo educativo e o compromisso dos futuros presbíteros com a reflexão crítica e a busca da verdade. Parabenizamos calorosamente os seminaristas que concluíram esta etapa, reconhecendo o empenho, a dedicação e a maturidade intelectual expressos ao longo de seus estudos. A manhã de pesquisas, portanto, não apenas celebrou o encerramento de um ciclo, mas também renovou o entusiasmo e a esperança na caminhada espiritual e acadêmica de nossa comunidade.
Confira alguns regitros da manhã de apresentação dos trablhos:




















