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VOCAÇÃO É UMA AVENTURA

VOCAÇÃO É UMA AVENTURA

Por: Mons. Borges

Agosto, designado como mês vocacional, chegou ao seu término neste ano de 2025. Oportunidade especial para refletirmos, rezarmos e tomarmos mais consciência do tema em pauta. De maneira geral entendemos o sentido de vocação em vista do ser padre, ser irmã ou irmão na vida consagrada. Já de muitos anos vemos ampliada a extensão do tema vocação, sob um olhar mais abrangente.

Afinal, o que é mesmo vocação?

Vocação é um chamado. Vocação supõe uma relação, tais como uma profissão, um carisma, um estado de vida, uma missão. Na vocação sacerdotal, a relação com Deus e a Igreja, a serviço do Reino. Na vocação matrimonial, a relação esposo-esposa-filhos. No campo profissional, a relação com as pessoas no exercício de suas atividades. Sempre vocação numa relação de um para com o outro, uma vez que se trata de um serviço a ser prestado. Daí, a vocação estar sempre vinculada a uma relação. Uma relação entre pessoas? Sim, mas em vista de uma prestação de serviço. O padre não é sacerdote somente para si, mas para servir à Igreja, aos irmãos. Na vocação matrimonial o esposo se realiza como pessoa na companhia da esposa, os quais se realizam e se completam na vivência da vocação matrimonial. O psicólogo, bem como outros profissionais, se realiza como psicólogo na prestação de serviço aos seus clientes. Portanto, uma relação pessoal, a serviço do outro. A vocação supõe o chamado de Deus e a resposta do homem. Só uma das partes não constitui verdadeira vocação. Quem chama, espera uma resposta, uma relação correspondida. A resposta é difícil, exige tempo, reflexão, preparação, coragem, decisão, e muito amor ao chamado. É sempre um risco, uma aventura.

Todos somos chamados.

Primeiramente o chamado à vida. Os pais são chamados colaborar com o Criador na obra da criação, na transmissão da vida. Que mistério profundo! Chamado à vida por intermédio de nossos pais! Somos chamados à vida da graça pelo Batismo, fazendo de nós, pedras vivas na construção do templo de Deus. São os leigos presentes na comunidade. Somos chamados ao estado de vida no casamento, ao sacerdócio, a esta ou àquela profissão ou ministério. Chamado, uma missão a ser abraçada para servir. Na vocação à vida, não estamos aqui por acaso. “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gen 1, 26). Vivo a minha vida, e ao mesmo ela está a serviço do próximo. Não pode estar fechada somente em mim mesmo.

Vocação e seu mistério.

Os diversos chamados acontecem a partir de circunstâncias muitas vezes misteriosas. É a voz de Deus em nosso coração. É o toque de Deus em nossos ombros. Homens e mulheres que se conhecem em ambientes tão especiais, jovens que ouvem o chamado de Deus para o sacerdócio, para a vida religiosa consagrada, e até mesmo para esta ou aquela profissão em circunstâncias tão diversificadas e cheias de mistério. Daí partem para novo rumo, para uma missão. Uma vez chamados, fazer investimento na missão, não só pelas próprias forças, mas sob a luz de Deus que chama. Assim se inicia a caminhada, que requer perseverança, sempre contando com a graça de Deus. Diante do chamado, como é importante contar com a sabedoria, a prudência e a determinação! Sabedoria, como pediu Salomão: “Dai, pois, a vosso servo um coração compreensivo para governar o vosso povo, e para discernir entre o bem e o mal” (1 Rs 3,28). A prudência é de fundamental importância no discernimento vocacional. É necessário ponderarmos bem nossas decisões, o que vale para qualquer chamado em nossa vida. Com a força de Deus, sempre chega o momento certo de darmos o nosso sim. Vocação é sempre um mistério. Por outro lado, supõe ousadia, riscos, aventura.

Vocação na história do Povo de Deus.

No início de sua obra, Deus cria o homem e a mulher, chama Noé, Abraão, Moisés, Samuel para uma missão. Sempre eles colocam alguma restrição, insegurança, mas Deus insiste no chamado, garantindo-lhes que a sua graça que não lhes faltará. Deus chama os profetas como seus porta-vozes, para falar em seu nome, enviando-os para a missão. Na Nova Aliança, Jesus Cristo chama os apóstolos que Ele quis. Chama-os nominalmente. Antes de fazê-lo, Jesus se afasta para rezar, dada a importância da missão de escolher os apóstolos. Não chamou os mais preparados, cultos, comprometidos. Não! Chamou-os e os preparou por cerca de três anos, para a missão. No processo de formação, muitas dificuldades, conflitos, decepções, incertezas, mas foram em frente. Um mistério e um risco. O que os aguarda pela frente? Algo os espera. Incertezas, dúvidas, mas vão em frente. Jesus os orienta para a missão. Houve momento em que Jesus chegou a dizer: “Vocês também não querem ir embora? Pedro intervém: A quem iremos, Senhor? Só tu tens Palavras de vida eterna (Jo 6,67-68)”. Em seus ensinamentos Jesus cria nos chamados o carisma da vocação pela força do Espírito Santo. Chamados, consagrados e enviados para a missão, o que supõe fidelidade. Um deles, na ultima hora traiu Jesus, o filho da perdição como disse o próprio Jesus. Este foi infeliz, foi infiel. Houve a quem Jesus chamou, mas se recusou a segui-lo, porque era muito rico. Como é importante, com a graça de Deus, a fidelidade à vocação! A infidelidade leva à perdição, ao fracasso. Daí, a necessidade de uma séria e empenhada espiritualidade, fundamentada na Palavra de Deus, na Eucaristia, no amor ao sacerdócio e à vida consagrada. Pela mesma forma, nas outras realidades do chamado, tais como no matrimônio, na vida profissional e missão social.

Ontem e hoje Deus continua chamando.

Deus continua chamando pela voz da Igreja, para a missão no ministério, ou seja, para a vida sacerdotal e consagrada, como religiosos e religiosas. Deus chama, aguardando a nossa resposta. Deus não obriga ninguém a nada, mas continua chamando por meio de pessoas e sinais. Espera nossa resposta. Todo chamado supõe uma resposta. Deus espera uma resposta consciente, madura, livre. Em seus quase dois mil anos de história, a Igreja é o instrumento de Deus na busca de vocações. Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos, assim como poucos são os que ouvem o convite. O chamado de Deus tem um caráter divino, é algo muito especial. E se formos infiéis, sem corresponder ao que Deus espera de nós? Deus continua chamando para o sacerdócio, para a vida religiosa consagrada. Vale ressaltar que o sacerdócio é para aqueles aos quais Deus chama e os consagra pelo sacramento da Ordem para o serviço ministerial dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Só o padre, o sacerdote, pode celebrar o mistério da Eucaristia, bem como os sacramentos, pela sua própria missão sacerdotal, através de suas mãos ungidas no dia de sua ordenação. O padre recebe o sacramento da Ordem em função do seu ministério próprio. Os chamados à vida religiosa têm suas características próprias. Trata-se de consagração, mas não de ordenação. Homens e mulheres que pertencem a uma congregação, vivem em comunidade, fazem os votos de pobreza, castidade e obediência. Exercem sua missão nas obras de educação, da caridade, assistência aos enfermos, nos empreendimentos sociais, na comunicação, nas pastorais da Igreja, na missão dentro da própria nação ou além-fronteiras e outras tantas atividades. É necessário corresponder ao chamado. Por razões diversas, às vezes acontecem desistências pelo meio do caminho, como os que optaram por uma nova vida e missão, abandonando a vocação inicial. Nem por isso a Igreja os abandona, mas respeita sua decisão. É um novo chamado. Somos todos filhos de Deus e da Igreja.

Pastoral vocacional

É um trabalho da Igreja, exercido por padres, seminaristas, leigos, na conscientização, sobretudo de adolescentes e jovens, em busca de mais vocações para a vida sacerdotal e religiosa. Deixamos aqui um apelo aos jovens. Meninos, vocês já pensaram na possibilidade de um dia serem sacerdotes, padres para o serviço da Igreja? E vocês, meninas, já pensaram na possibilidade de serem religiosas na vida consagrada, no serviço ao povo de Deus? E vocês, pais, mães, leigos, já pensaram em conversar com seus filhos, os jovens e adolescentes sobre esta possibilidade de um despertar vocacional? Surgindo sinais concretos, em vista das vocações, procurem o seu pároco ou outro padre para um início de conversa. Esclarecemos que há poucos dias, chegaram a Diamantina-Guinda as irmãs scalabrinianas, aqui, fixando residência como missionárias, para um trabalho de evangelização e missão. Com certeza muito irão nos contribuir para o despertar vocacional. Sejam elas muito bem-vindas!

Concluindo, vocação é um chamado de Deus para a continuidade da obra de Jesus Cristo. Deus chama e espera a minha e a sua resposta. Rezemos pelas vocações, apoiemos as vocações, sejamos instrumentos para o surgimento de mais vocações para a messe do Senhor. “A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe” (Mt 9,37-38). Vamos fazer com que sejam muitos, e santos os operários! Para isso,

CORAÇÕES ARDENTES E PÉS A CAMINHO!

Autor: Mons. Geraldo das Graças Borges- Diretor Espiritual do Seminário

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