Por Lucas Ribeiro:
Na espiritualidade cristã, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é mais do que um ato de piedade popular; é uma resposta contemplativa ao amor insondável de Cristo, que nos amou até o fim. Ao celebrarmos a primeira sexta-feira do mês de julho, somos convidados a voltar nosso olhar para esse Coração que arde de amor e misericórdia por cada um de nós.
É essencial compreendermos que não se trata de adorar um símbolo isolado ou um órgão físico destacado do corpo de Cristo. Ao venerarmos o Coração de Jesus, adoramos a Pessoa inteira do Filho de Deus feito homem, o Verbo encarnado que amou com um coração humano. É esse amor que desejamos encontrar, meditar e acolher: o amor divino que se fez carne, que chorou, se compadeceu, sofreu e se doou por inteiro.
A imagem do Coração de Jesus, com chamas de fogo, cercado por espinhos e muitas vezes com a cruz no topo, fala ao nosso coração com linguagem sensível e acessível. Ela não é um ídolo, mas um sinal que aponta para o Mistério: Deus nos amou com ternura palpável, com afeto verdadeiro, com emoções humanas elevadas pela divindade. Esse coração é símbolo real do centro da Pessoa de Cristo, onde se encontram unificados o divino e o humano.
Contemplar o Coração de Jesus é, portanto, entrar em relação com o Cristo vivo, glorificado, que continua a nos amar com a mesma intensidade com que amou os doentes da Galileia, os pecadores de Jerusalém e o ladrão na cruz. Sua compaixão não cessou. Ao contrário, ela continua a jorrar do seu Coração aberto, como fonte de misericórdia para o mundo inteiro.
Nesse Coração, encontramos o amor tríplice de Cristo: o amor divino eterno, que procede do Pai; o amor espiritual, infundido em sua alma humana; e o amor sensível, expresso nos seus gestos, lágrimas e palavras. É esse amor integral que nos alcança em nossa condição concreta – marcada por fragilidade, dor e esperança –, e que deseja transformar nosso coração, tornando-o semelhante ao d’Ele: manso, humilde e ardente de caridade.
Não nos detenhamos apenas nas formas exteriores da devoção, mas deixemo- nos transformar interiormente por ela. A imagem nos remete ao encontro: ela nos convida a olhar Cristo nos olhos, escutar sua voz, apoiar-nos em suas mãos, descansar em seu peito. Como bem recordava Santo Agostinho, Cristo assumiu todas as dimensões da nossa humanidade, inclusive os afetos, para que nada do que somos fique excluído da redenção.
Hoje, diante do Coração de Jesus, somos chamados a abrir o nosso próprio coração. A reconhecer que só seremos plenamente humanos se amarmos. Que só encontraremos descanso verdadeiro se nos deixarmos amar por Ele. E que só seremos santos se o nosso coração pulsar em sintonia com o dele. Na primeira sexta-feira deste mês, diante do Coração de Cristo, adoremos em silêncio, acolhamos com confiança e peçamos humildemente:
“Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, fazei o nosso coração semelhante ao vosso.”
Autor: Lucas Ribeiro de Souza, 3° ano do discipulado