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Pentecostes: A Missão de uma Igreja Nascida do Sopro do Espírito e Conduzida por Ele

Pentecostes: A Missão de uma Igreja Nascida do Sopro do Espírito e Conduzida por Ele

Por Maycon Cruz:

Neste domingo, a Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes, uma das festas mais importantes do calendário litúrgico. Nela, fazemos memória da manifestação do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora, reunidos no cenáculo. Pentecostes marca também o evento fundador da Igreja: ela não nasce da vontade humana, mas do sopro de Deus (cf. Marguerat, 2003, p. 118). São Lucas, ao escrever o livro dos Atos dos Apóstolos, mostra-nos que Deus mesmo se mistura às vicissitudes humanas (cf. Marguerat, 2003, p. 114).

A festa que celebramos é o cumprimento da promessa de Jesus aos Apóstolos no dia da Ascensão: “Mas recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós” (At 1,8). Permanecendo em Jerusalém como o Ressuscitado lhes pediu, os discípulos recebem o Espírito com a força de um vento impetuoso; línguas de fogo repousam sobre cada um, e, cheios do Espírito Santo, começam a falar em outras línguas de forma que todos os estrangeiros os compreendiam (At 2,1-11).

O mesmo Espírito que desceu sobre Cristo no batismo (cf. Mc 1,9-11) agora desce sobre a Igreja nascente. É este Espírito que a Igreja continua a invocar em todos os momentos decisivos: na administração dos sacramentos, na celebração da Missa, na eleição de um novo Papa. No entanto, esse Espírito não pertence à Igreja; ele continua sendo dom de Deus. O homem apenas pode esperá-lo e suplicar que essa graça lhe seja concedida (cf. Marguerat, 2003, p. 130). Esse dom é concedido a todos os cristãos no batismo. O Espírito de Deus habita em nós, e por Ele pertencemos a Cristo (cf. Rm 8,9).

Nesse contexto, a Liturgia da Palavra nos direciona a três aspectos centrais da missão da Igreja. A primeira leitura nos apresenta a Igreja reunida pelo Espírito de Jesus, que se torna manifestação de Deus, proclama suas maravilhas e leva o projeto divino a todos os povos. Já a segunda leitura, extraída da carta de São Paulo, nos explica que a Igreja reunida bebe de um mesmo Espírito e forma um único corpo; sendo assim, cada pessoa na comunidade é um dom que contribui para edificar esse corpo. Por fim, o Evangelho nos mostra uma comunidade permeada pelo mesmo Espírito de Jesus, que assim forma a Igreja com a missão de ser testemunha de Cristo, atualizando a linguagem do Espírito para o mundo de hoje (cf. Bertolini, 2023, p. 121-122).

Logo após receber o Espírito Santo, a Igreja imediatamente inicia sua missão diante dos estrangeiros ali presentes. Movidos por esse mesmo Espírito, os discípulos anunciam as maravilhas de Deus ao ponto de todos ficarem estupefatos (cf. At 2,5-13). Nessa dinâmica já está posta a primeira missão da Igreja: proclamar as maravilhas de Deus ao mundo. Ainda que pareça que todos conhecem Cristo, há muitos que nunca ouviram falar d’Ele. É nossa missão levar-lhes o Evangelho. O dom que recebemos não deve ser enterrado, mas multiplicado (cf. Mt 25,14-30).

Sendo assim, permeados pelo Espírito Santo, levemos o Evangelho àqueles que ainda não o conhecem. Não é preciso ir longe: nas nossas vizinhanças há pessoas sedentas de uma palavra de esperança. Que encontremos, no anúncio, a nossa alegria, e movidos por ela, comuniquemos a mensagem com entusiasmo. Afinal: “Não temos outra felicidade nem outra prioridade senão a de sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos.” A recompensa é desfrutar da alegria do Evangelho, que “enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”. A alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e está frutificando (cf. Sbardelotto, 2024, p. 34).

Dentro dessa dinâmica em que cada cristão é chamado a evangelizar com alegria, somos lembrados de que isso não é um ato solitário. O individualismo e a indiferença representam um risco para todos, especialmente para nós cristãos. Como lembra o Papa Francisco, não nos deixemos contaminar por essas atitudes egoístas. Assim como os apóstolos Tiago e João, que inicialmente buscavam posições de destaque junto a Jesus (cf. Mc 10,35-45), somos chamados ao caminho da harmonia e do serviço, que reconhece a dignidade dos outros e conduz à comunhão (cf. Francisco, 2020).

Pentecostes nos recorda que a missão evangelizadora é comunitária. Enquanto membros do Corpo de Cristo, cada batizado deve contribuir para que “Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,28). Evangelizar é trabalho em equipe. Assim como o corpo só funciona em sintonia, a Igreja só é Corpo de Cristo quando caminha unida. A Evangelii Nuntiandi recorda que, embora fruto de uma experiência pessoal, evangelizar nunca é um ato isolado, mas comunitário e eclesial. O próprio Jesus envia os discípulos “dois a dois” (cf. Lc 10,1). Em tempos de individualismo e busca por visibilidade pessoal, é necessário reafirmar: “nenhum evangelizador é o senhor absoluto da sua ação evangelizadora […] mas age em comunhão com a Igreja e seus Pastores” (EN, n. 60, apud Sbardelotto, 2024, p. 35).

O Evangelho nos apresenta uma comunidade com medo, de portas fechadas. O medo os impede de testemunhar. Quando Jesus se coloca no meio deles, os corações se enchem de alegria – e é essa alegria que os levará a testemunhar o Ressuscitado (cf. Bertoni, 2023). Em nossas comunidades, para que grupos e pastorais floresçam, é necessário que Cristo esteja no centro. Do contrário, tudo vira ativismo, e na primeira dificuldade, desmorona.

No Evangelho de João, o Espírito é soprado sobre a comunidade. Antes, porém, ela é enviada: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). A missão é clara, mas nossa fé, por vezes, é frágil. Confiar apenas em nossas forças é arriscado. Precisamos de algo mais: o Espírito Santo. Mesmo na fraqueza, Ele nos fortalece (cf. Rm 8,26), ajuda a recomeçar, a discernir e a agir no mundo como Igreja. É por isso que Jesus derrama o Espírito sobre a Igreja nascente — e continua a derramar sobre nós hoje. Pela efusão do Espírito, a Igreja assume sua missão de testemunhar o Ressuscitado até os confins da terra (cf. At 1,8).

O Espírito é força para o testemunho. Ele transforma os discípulos em instrumentos de Deus. Além disso, o Espírito precede os crentes, provocando acontecimentos através dos quais Deus manifesta seus projetos. Em outras palavras, o Espírito conduz os fiéis à prática missionária, mas também provoca situações que exigem discernimento espiritual (cf. Marguerat, 2003, p. 128).

A Solenidade de Pentecostes nos convida a renovar nossa abertura ao Espírito Santo, permitindo que Ele nos transforme em discípulos missionários, ardorosos na fé e generosos no serviço. Como Igreja que nasce do sopro divino, somos chamados a romper com o medo e deixar-nos conduzir pelo Espírito de Cristo. Ele nos reúne, fortalece e envia. Neste domingo, ao celebrarmos esta grande festa, supliquemos com confiança: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.”

A liturgia de Pentecostes, rica em símbolos e teologia, é mais que uma comemoração: é experiência viva da efusão do Espírito. A cor vermelha, símbolo do fogo divino, recorda-nos que somos chamados a nos inflamar pelo mesmo Espírito que moveu os Apóstolos. O prefácio da Missa nos lembra que “no mistério de Pentecostes inaugurastes a Igreja entre todos os povos”, revelando a missão universal e comunitária da Igreja. Celebrar Pentecostes é, portanto, abrir-se a uma nova unção, a um novo ardor evangelizador, em comunhão com toda a Igreja.

Portanto, que este Pentecostes seja para nós um novo envio. Que sejamos, como os primeiros discípulos, homens e mulheres cheios do Espírito, capazes de testemunhar o Evangelho com alegria, criatividade e coragem. Que, em nossas comunidades, Cristo permaneça no centro. E, caminhando juntos como Igreja sinodal, sejamos sinal visível do Reino de Deus.

Neste tempo jubilar de 2025, em que somos chamados a ser “peregrinos de esperança”, que o Espírito Santo renove em nós a coragem de caminhar como Igreja viva, atenta aos sinais dos tempos e aberta à ação divina. Que Ele conceda à sua Igreja — que espera e deseja os seus sete dons, como cantamos na Sequência — a graça de acolhê-los com fé. E que esses dons nos ajudem a testemunhar Jesus com esperança entre todas as pessoas.

Referências Bibliográficas:

BERTOLINI, Pe. José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C e Festas e Solenidades. São Paulo: Paulos, 2006.

FRANCISCO. Catequese na Audiência Geral de 12 de agosto de 2020: Curar o mundo – 2. A fé e a dignidade humana. Vaticano, 2020. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2020/documents/papa-francesco_20200812_udienza-generale.html. Acesso em: 6 jun. 2025.

MARGUERAT, Daniel. A Primeira História do Cristianismo: Os Atos dos Apóstolos. São Paulo: Loyola, 2003.

SBARDELOTTO, Moisés. Missionários no ambiente digital: Em nome de quem?. São Paulo: Santuário, 2024.

Autor: Maycon Cruz dos Santos- 2° ano da Configuração.

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