O CORAÇÃO QUE NOS ATRAI À ADORAÇÃO
Pe Darlan Lima
Diretor espiritual da Guarda de Honra:
Neste mês queremos refletir sobre a adoração eucarística, ou o culto à eucaristia fora da missa. Esta reflexão se faz necessária para compreendermos o verdadeiro sentido da adoração eucarística, visto que ela é parte integrante da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Durante algum tempo, pensou-se que houvesse uma separação entre a celebração eucarística e a adoração. As reflexões teológicas do início do século XX, por exemplo, traziam um compreensão radical deste assunto, chegando até a dizer que a adoração nem deveria ser feita. Hoje não é mais assim, compreendemos, e vivemos, o que diz Santo Agostinho ao nos falar sobre a eucaristia: “Ninguém come esta carne, sem antes a adorar; … pecaríamos, se não a adorássemos”. Assim ele nos mostra a íntima ligação que existe entre a comunhão eucarística e a adoração.
A experiência que fazemos no dia a dia é de experimentar as nossas fraquezas e fragilidades. Assim como sentimos nosso corpo fraco pela falta do alimento corporal, experimentamos a mesma realidade em nível espiritual e psíquico.
Muitas pessoas se sentem fatigadas, abatidas e não sabem o porquê. Neste mundo carente de referências, fragilizado por tantas tribulações, informações, entre outros, tem-se uma sensação de cansaço constante, seja pela correria diária ou ainda pelas tantas outras coisas que se nos apresentam. O sentimento é de sempre refazer as próprias forças, e muitos se perguntam: “como vou dar conta de tudo isso?”. Aqui é preciso ouvir as palavras de Jesus: “vinde a mim, todos os que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso…” (Mt 11,28). Ele nos faz um convite para ir ao seu encontro, permanece ali nos esperando. É preciso saber que esta presença de Jesus, nós a encontramos na Eucaristia, seja a celebrada ou a que permanece no sacrário, “esperando que o venham visitar”.
Essa possibilidade nos alegra o coração, anima as nossas vidas. Esta foi a alegria e fortaleza dos santos: ter a consciência que existe uma fonte de inesgotável de graças para nós. Um bálsamo para as nossas feridas, um alimento para as nossas fraquezas. Santo Ambrósio, falando da sua experiência e necessidade em relação a eucaristia nos diz “Eu que sempre peco, preciso sempre do remédio ao meu alcance.” Sim, somos carentes desse alimento que não é somente para o corpo, mas para o espírito.
A Eucaristia é um bálsamo para as nossas feridas, um alimento para as nossas fraquezas.
O nosso Deus é aquele que caminha conosco, permanecendo sempre ao nosso lado. Gostaria de terminar com as palavras do Papa Bento XVI, neste mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e à Eucaristia:
“Na festa de Corpus Christi, olhamos sobretudo para o sinal do pão. Ele recorda-nos também a peregrinação de Israel durante os quarenta anos no deserto. A Hóstia é o nosso maná, com o qual o Senhor nos alimenta, é verdadeiramente o pão do céu, mediante o qual Ele se doa a si mesmo. Na procissão nós seguimos este sinal e, assim, seguimos a Ele próprio.
“A Hóstia é o nosso maná, com o qual o Senhor nos alimenta, é verdadeiramente o pão do céu, mediante o qual Ele se doa a si mesmo.”
E imploramo-lo: guia-nos pelos caminhos desta nossa história! Mostra sempre de novo à Igreja e aos seus Pastores o caminho justo! Olha para a humanidade que sofre, que vagueia insegura entre tantas interrogações; olha para a fome física e psíquica que a atormenta! Concede aos homens pão para o corpo e para a alma! Dá-lhe trabalho! Concede-lhe luz! Concede-te a ti mesmo a ela!
Purifica e santifica todos nós! Faz-nos compreender que só mediante a participação na tua Paixão, mediante o “sim” à cruz, à renúncia, às purificações que nos impões, a nossa vida pode amadurecer e alcançar o seu verdadeiro cumprimento. Reúne-nos de todos os confins da terra. Une a tua Igreja, une a humanidade dilacerada! Concede-nos a tua salvação! Amém!”
Caros irmãos e irmãs, desejo a você um feliz e renovador encontro com Jesus na eucaristia. Que você possa exclamar como Santa Margarida: “sentia-me no meio da fornalha de amor, e penetraram-me tão vivas chamas”.
Uma feliz e abençoada festa do Sagrado Coração de Jesus.
UM RUGIDO PASCAL
Por Tales Eduardo Elias:
Depois dos acontecimentos da passagem do nosso amado Papa Francisco naquela segunda feira da oitava da Páscoa, a Igreja viveu um pequeno êxodo fora de época na estação primaveril da ressurreição do Senhor. É interessante notar que no período que a Igreja se reveste da vida nova vinda do ressuscitado, pudemos contemplar, na entrada da vida eterna de Francisco, o que foi a sua vida: uma constante doação, com um frescor de amor e serviço. E foi ainda dentro das alegrias do tempo pascal que a Igreja saiu de seu pequeno êxodo com uma forte voz, ou melhor, um rugido que brandava da cidade eterna para todo o mundo: A paz esteja com todos!
Com essa saudação pascal, Robert Francis Prevost, no dia 08 de maio, se apresentou ao mundo como o novo sucessor de Pedro, nomeado Leão XIV. O pontífice escolhido pelos cardeais novamente veio do novo mundo, dessa vez do norte, dos Estados Unidos da América, mas que não se limita em se intitular estadunidense de nascimento, pelo contrário, com orgulho, se apresenta como um latino-americano de coração, pois foi nas terras peruanas que nosso Leão XIV exerceu seu pastoreio quando lá foi bispo da Diocese de Chiclayo. Nos primeiros momentos entre o povo, o mundo observou nos olhos do santo padre uma docilidade de confiança acompanhado de admiração e, em suas palavras, uma força que fazia jus ao nome escolhido.
Além da saudação pascal nos primeiros instantes de seu pontificado, Leão trouxe consigo em seu lema episcopal a essência daquilo que será o toque leonino na vida da Igreja: “in illo Uno unum”, isto é, “no único (Cristo) somos um”! Esse apelo a uma paz de unidade marcou sua apresentação, principalmente ao falar que o mundo necessita de uma paz desarmada e desarmante, uma fala profética em um tempo marcado pela desumanização do homem pelo flagelo das guerras em tantos lugares do mundo. Leão XIV continuou seu anúncio pascal nos encontros subsequentes a sua eleição. Com os cardeais, ele reforçou a mensagem da unidade lembrando que a verdadeira grandeza da Igreja é viver na variedade dos seus membros unidos à única Cabeça, que é Cristo, «Pastor e Guarda» (1Pe 2, 25) das nossas almas. Com os jornalistas e comunicadores, ao falar sobre a necessidade de uma comunicação que fuja da torre de babel, isto é, uma comunicação que gere comunhão, unidade e não guerras de palavras, reforçou, mais uma vez, o seu discurso inicial, mas, agora, pedindo uma comunicação desarmante.
Em sua homilia, na missa inaugural do seu pontificado, o papa nos lembrava que o amor e a unidade marcaram a missão de Pedro naquele dia no lago de Tiberíades (Jo 21), sendo, portanto, esse o seu ideal, continuar o pastoreio do rebanho de Cristo no amor e na unidade que brotam do seu Sagrado Coração. E é dessa fonte inesgotável de amor que Leão XIV proferiu um apelo na sua última audiência geral: ao meditar sobre a atitude do samaritano na parábola evangélica, advertiu que devemos ter os mesmos sentimentos do Coração Sagrado de Cristo, que sente com compaixão e vai de encontro aos que precisam, principalmente daqueles que estão as margens. Desse modo, é possível perceber que o desejo de unidade e paz que brotam do coração do papa reforça ainda mais o significado do título que recebeu naquele 8 de maio: pontifex, isto é, construtor de pontes, de diálogo e sempre, de unidade.
Como é sublime ver o agir do Espírito em sua Igreja! Em um mundo marcado por guerras, divisões e um constante esfriamento no amor, Deus nos concede novamente um pastor que fala aos ouvidos do planeta. Leão XIV começou seu pontificado arrastando multidões encantadas com sua docilidade e força, e em cada discurso lembra ao povo de Deus que a unidade e a paz são condições inegociáveis para a vida humana. Em seu encontro com as igrejas orientais, o pontífice faz um novo apelo: cessem as armas! Unidade, paz, comunhão, estamos acompanhando um novo estágio da história, ouvindo um barulho novo. Ao escolher seu nome, dentre tantos motivos, o antecessor, Leão XIII, ganhou destaque, pois em uma época marcada pelas mudanças e muitas vezes pelo esquecimento da dignidade social do homem, o pontífice precisou bradar: rerum novarum! Assim, vemos a vontade deste novo Leão da Igreja, em seu apelo de unidade percebemos que a Páscoa das coisas novas precisam ser reais na vida do homem. Leão XIV no início do pontificado quer fazer com que as coisas antigas da mensagem do evangelho, sejam mais uma vez novas no mundo em que vivemos. Que ruja o Leão, com a força da ressurreição e o frescor do Espírito.
O que é a Guarda de Honra?
Procurei quem me consolasse, mas não encontrei. (Sl 69)
A arquiconfraria da Guarda de Honra foi instituída a fim de responder a esta dolorosa queixa do Salvador. Dessa forma, aqueles que ingressam na Guarda de Honra assumem o compromisso especial de honrar o Coração de Jesus transpassado pela lança. A Guarda de Honra tem por fim prestar ao Divino Coração um culto perpétuo de glória, de amor e de reparação.
Para que este objetivo seja alcançado, arquiconfraria adota alguns meios:
A inscrição dos associados no registro da Arquiconfraria e em um quadrante horário exposto publicamente perto do altar da arquiconfraria;
A hora de guarda diária, principal prática devocional dos guardas de honra, que consiste em oferecer os trabalhos, sentimentos, disposições e acontecimentos da hora escolhida em reparação ao Coração do Senhor.
É a hora de Guarda o exercício fundamental da associação. Consiste em uma hora do dia (das 6h às 18h) que o próprio associado escolhe no ato da sua admissão, e durante a qual, sem alterar em nada as suas ocupações cotidianas, se conserva em união ao Coração de Jesus. Assim, oferece ao Senhor todos os seus pensamentos, palavras, ações e sofrimentos, em união com o desejo que sente de consolar o seu Coração adorável por meio de um amor generoso e constante para com Ele e com os irmãos.
MINHA ESTRADA PARA O CÉU
Por Álvaro Vitor dos Santos:
Iniciamos o mês devotado ao Sagrado Coração de Jesus com toda esperança que traz um tempo novo. Continuamos a trilhar a estrada de Cristo impulsionados pelo Ano Jubilar cujo lema comunica a identidade de todo cristão: peregrinos de Esperança. Todo peregrino parte para um determinado local consciente de seus pré-requisitos. Podemos destacar o conhecimento do trajeto, a disposição e o despojamento. Nesse sentido, enriquece nossa reflexão a vida do Beato Carlo Acutis.
Jovem, nascido em Londres, aos 3 de Maio de 1991 e falecido aos 12 de Outubro de 2006, viveu a maior parte de seus anos na Itália. Carlo possuía gostos comuns, saía com os amigos, jogava vídeo games e viaja. Todavia, era definido por uma aptidão e ardor incomuns para o Deus das coisas e as coisas de Deus. No uso dos recursos tecnológicos de seu tempo – tão próximo a nós – realizou uma longa catalogação de milagres eucarísticos no decorrer da História da Igreja para apresentá-los aos jovens de todo mundo.
É de Carlo a frase: “a Eucaristia é minha estrada para o Céu”. Por ela, expressa a fé de que a vida contida no Santíssimo Sacramento rompe o desespero e a falta de sentido. Proclama para todos o poder transformador do Coração amoroso de Jesus, indica um percurso de crescimento na caminhada espiritual. Profundamente apaixonado pelo Senhor presente entre nós como Pão do Céu, pôde testemunhar ao mundo contemporâneo a possibilidade da vivência da santidade – integridade de coração a partir do Coração de Deus. Carlo escancara a verdade de que ninguém caminha sozinho, sem esperança, desiludido ou ignorado por Deus em suas dores.
Como lembrou o Papa Francisco na Gaudete et Exsultate: “Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantém conosco laços de amor e comunhão” (GE 4). Desse modo, a intercessão e o exemplo de Carlo nos encorajam à segunda conversão – passagem da superficialidade para o aprofundamento na fé – a partir da qual possamos seguir decididamente como discípulos e peregrinos de esperança. Tendo-nos encontrado pessoalmente com nosso Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6) na Eucaristia, vivamos bem o mês do Coração Misericordioso de Cristo! Por essa estrada segura para o Céu, sejamos eucaristia para o mundo!
Ato de Desagravo ao Sagrado Coração
Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é por eles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados na vossa presença, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é, de toda a parte, alvejado o vosso amorosíssimo Coração.
Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conculcando as promessas do batismo, sacudiram o suavíssimo jugo da vossa santa lei.
De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas, particularmente, da licença elos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos Santos, dos insultos ao vosso Vigário e a todo o vosso Clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino amor, e, enfim, dos atentados e rebeldias das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.
Oh! se pudéssemos lavar, com o próprio sangue, tantas iniquidades!
Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os Santos e almas. piedosas, aquela infinita satisfação, que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar, todos os dias, sobre nossos altares.
Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nosso próximo, impedir, por todos os meios, novas injúrias de vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número de almas possíveis.
Recebei, ó benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria santíssima reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes, até à morte, no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à pátria bem-aventurada, onde vós com o Pai e o Espírito Santo viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.
A Igreja concede indulgência plenária ao fiel que recitar este ato publicamente na solenidade do Sagrado
Coração de Jesus.