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Sexta meditação Pascal: “Ascensão do Senhor: A missão Continua em Nós”

Sexta meditação Pascal: “Ascensão do Senhor: A missão Continua em Nós”

Por Carlos Eduardo:

O caminho da Ressurreição até a Ascensão de Jesus ao céu é um momento muito especial para refletirmos sobre a solenidade que a Igreja celebra neste final de semana, um momento profundamente significativo para a nossa fé!

“A Ascensão do Senhor não é afastar-se, separar-se, distanciar-se de nós, mas o cumprimento da sua missão: Jesus desceu até nós para nos fazer subir ao Pai; desceu até ao fundo para nos levar ao alto; desceu às profundezas da terra, para que o Céu pudesse abrir-se de par em par sobre nós. Destruiu a nossa morte para podermos receber a vida, e recebê-la para sempre” (FRANCISCO, 2024).

Durante quarenta dias, o Filho de Deus esteve com os apóstolos que havia escolhido para verem e testemunharem a Ressurreição, “foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois de sua paixão, com numerosas provas” (cf. At 1, 3). É intrigante pensar que antes da paixão, morte e ressurreição de Cristo, Ele preparou os seus discípulos para vivenciarem tudo aquilo que iria acontecer. Como advertiu Jesus aos discípulos: “Chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós vos entristecereis, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” (cf. Jo 16, 20).

Mas, mesmo assim, os discípulos se dispersaram após sua morte na cruz, o peso foi demais para aqueles que tinham depositado a confiança em Jesus, sendo que o maior peso Ele carregou. Contudo, é possível imaginar que a confiança não era total; ainda havia resquícios de incertezas, idealizações e medo de sofrer semelhante condenação.

Jesus Ressuscitado quis apresentar-se aos seus para reunir os dispersos e o relato dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35) é uma linda demonstração da ação de Jesus para com aqueles que Ele ama. Foi ao encontro dos dispersos para que pudesse abrir-lhes os olhos a tudo aquilo que havia realizado e acontecido. Não poderia deixar que a obra fosse minada pela incerteza. Repete o gesto da Última Ceia: “tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e deu-o a eles. Então seus olhos se abriram e o reconheceram” (cf. Lc 24, 30-31). “[…] Jesus nos deixa a Eucaristia como memória cotidiana da Igreja, que nos introduz cada vez mais na Páscoa […] o crente é ‘fundamentalmente’ uma pessoa que faz memória” (FRANCISCO, 2019, n.13).

Jesus, vencedor da morte, manifesta-se aos seus em diferentes ocasiões, nas quais a dúvida precisava ser vencida pelo fogo da missão. E, antes de elevar-se às alturas, deixa aos discípulos as últimas palavras, como sementes lançadas em terra fértil.

Sua missão não era um caminho livre de obstáculos e dificuldades, muito pelo contrário, “o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia” (cf. Lc 24, 46), o que nos instiga a tomar as nossas cruzes diárias e seguirmos firmes o nosso caminho, tendo sempre confiança em Deus, aproximando-nos das Sagradas Escrituras e crendo que, se nosso sofrimento for por causa de Jesus é motivo de nos gloriarmos, pois “Bem-aventurados sois, se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós” (cf. 1 Pe 4,14). Antes de partir, Jesus preparou os seus discípulos e não os abandonou.

O Senhor deixa a missão aos tementes a Deus; assim nos orientam os Atos dos Apóstolos, para que fossem as testemunhas fiéis e contribuíssem para que a Boa Nova chegasse em todos os lugares, pois “recebereis uma força, a do Espírito santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra” (cf. At 1, 8).

A Ascensão aos céus não se trata de uma despedida, mas de uma passagem de missão, de uma nova maneira de Sua presença no meio dos discípulos e de nós, pois diz: “Eis que enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu” e que serão “revestidos da força do Alto” (cf. Lc 24, 49). Jesus promete que não nos abandonará, e sobre os discípulos, sobre a Igreja e sobre cada um de nós, enviará o Espírito Santo.

É uma mensagem “de esperança precisa a Igreja, para que, mesmo quando experimenta o peso do cansaço e da fragilidade, nunca se esqueça de que é a Esposa de Cristo, amada com amor eterno e fiel, chamada a conservar a luz do Evangelho, enviada para transmitir a todos o fogo que Jesus trouxe e acendeu, de uma vez para sempre, no mundo” (FRANCISCO, 2024).

Cristo sobe ao céu, mas deixa para nós a sua bênção e uma missão: anunciar o Evangelho a toda criatura. Ele eleva a nossa humanidade ao coração de Deus, como sinal de que também nós somos chamados à glória eterna. Mas enquanto esperamos esse encontro definitivo com Ele, somos chamados a viver aqui com os pés no chão e o coração no céu. Não permaneçamos estagnados como os discípulos após a Ascensão, paralisados pela contemplação que foi necessário que anjos os inquietassem: “Homens da Galileia, por que estais aí a olhar para o céu?” (cf. At 1,11). É preciso agir, evangelizar e servir.

O papa Francisco bem expressou sobre um fundamento da evangelização e que nos ajuda a refletir na solenidade da Ascensão. Para ele “[…] em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus, que quis nos chamar para cooperar com Ele e nos impelir com a força do Espírito” (FRANCISCO, 2019, n.12). Temos de tomar cuidado para não nos fecharmos em nós mesmos e deixarmos de contribuir com a obra de Deus, que Jesus deixou aos discípulos, uma vez que é Deus quem chama e capacita.

Jesus sobe ao céu, mas permanece conosco por meio do Espírito Santo, das Sagradas Escrituras, da Eucaristia e da vida da Igreja. Ele nos envia a sermos sal da terra e luz do mundo, continuadores de sua obra. Dessa maneira, “em seu Nome, fosse proclamado o arrependimento para remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso” (cf. Lc 24, 47-48)

Que nesta Solenidade da Ascensão, renovemos nosso compromisso missionário e de peregrinos da esperança. Que olhemos para o céu, sim, mas com os olhos atentos às necessidades do mundo. E que, impulsionados pelo Espírito Santo, possamos ser sinais vivos da presença de Cristo em nossa história.

A esperança cristã sustenta o caminho da nossa vida, mesmo quando este se apresenta tortuoso e cansativo; abre diante de nós sendas de futuro, quando a resignação e o pessimismo quereriam manter-nos prisioneiros; faz-nos ver o bem possível, quando parece prevalecer o mal; a esperança cristã infunde-nos serenidade, quando o coração está oprimido pelo fracasso e o pecado; faz-nos sonhar com uma humanidade nova e torna-nos corajosos na construção dum mundo fraterno e pacífico, quando parece inútil empenharmo-nos. Esta é a esperança, o dom que o Senhor nos deu com o Batismo (FRANCISCO, 2024).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2024.

FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium: A Alegria do Evangelho: Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus, 2019.

FRANCISCO, Papa. 9 de maio de 2024. Ascensão do Senhor – Entrega e leitura da Bula anunciando o Jubileu de 2025 e segundas vésperas (Homilia). Vatican News. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2024/documents/20240509-indizione-giubileo.html>. Acessado em: 29 de maio de 2025.

Autor: Carlos Eduardo Souza Cruz

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