Por Paulo Silva:
O evangelho deste quarto domingo do Tempo da Páscoa nos apresenta a figura do Bom Pastor, aquele cujas ovelhas ouvem a sua voz e o seguem. Em suas palavras, Jesus sempre se dirigia aos mais simples utilizando elementos comuns à compreensão do povo. Neste evangelho, ele recorre à imagem do pastor, que era familiar à realidade das pessoas a quem ele falava. Mas por que utilizar a figura dos pastores?
Na história de Israel, os pastores eram figuras comuns, e a Bíblia nos apresenta vários exemplos, como Abel, Abraão, Moisés, Jacó, Davi, entre outros. O oficio de pastorear era algo essencial para a sobrevivência do povo: era por meio das ovelhas que obtinha-se carne, leite e lã. Neste sentido, era fundamental que o pastor zelasse por seu rebanho, velando por seu bem-estar e segurança, ainda que fosse madrugada: “Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite” (Lc 2,8).
Jesus chama a si mesmo de Bom Pastor, mas Ele é um pastor diferente: não utiliza suas ovelhas em benefício próprio, não pretende se aproveitar delas. É um cuidado desinteressado, movido pelo amor, pois deseja o dom da vida para cada uma. É um pastoreio de sacrifício, em que o cajado se transforma em uma cruz que gera vida. Portanto, a relação que o Bom Pastor descrito por Jesus tem com suas ovelhas é de cuidado e zelo, para que nenhuma se perca por ação de predadores ou outros perigos. As ovelhas são preciosas ao Bom Pastor, Jesus.
Naquele tempo, existia a figura do mercenário, que, apesar de não ser citado na liturgia deste domingo, aparece neste mesmo capítulo, no versículo 12: “O mercenário, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo chegando, abandona as ovelhas e foge; então o lobo as arrebata e dispersa. Ele foge porque é mercenário e não se importa com as ovelhas.”
O mercenário age por interesse e, diante das dificuldades, as abandona. Ele só pensa em si, e a vida das ovelhas é colocada em segundo plano. O mercenário representa tudo aquilo que nos tira do nosso caminho de paz: o pecado, os medos, as enfermidades, as vozes enganadoras do mundo, os falsos pastores, as inseguranças. O mercenário conduz à perdição, à morte das ovelhas. Ele se opõe ao Pastor, que dá a vida.
O Pastor é diferente: Jesus nos diz que Ele dá vida eterna às suas ovelhas, e elas não se perdem. O pastoreio de Jesus é serviço, amor e doação. Jesus, o Bom Pastor, é o modelo por excelência de vida doada, que se oferece para dar vida aos que são seus. O Pastor se sacrifica pelo bem e pela vida do seu rebanho. O Papa Francisco, em uma reflexão sobre o Bom Pastor, nos recordava o pastoreio de Jesus:
“Também hoje, como no tempo de Jesus, muitos se propõem como ‘pastores’ das nossas existências; mas só o Ressuscitado é o Pastor verdadeiro, que nos dá vida em abundância. Convido todos a ter confiança no Senhor que nos guia. Mas não só: Ele acompanha-nos, caminha conosco. Escutemos a sua Palavra com mente e coração abertos, para alimentar a nossa fé, iluminar a nossa consciência e seguir os ensinamentos do Evangelho.”
Jesus, o Bom Pastor, age constantemente assim com cada um de nós. Ele nos chama pelo nome, nos conhece de maneira pessoal. Cada ovelha é diferente, única e especial; porém, sozinha, ela não forma o rebanho. É necessário que esteja sempre com as outras. A figura do Bom Pastor deve ser, para nós, o reflexo da nossa missão como cristãos: o nosso chamado ao serviço e ao cuidado com o próximo. Jesus, como modelo de Pastor, vem nos mostrar o que somos chamados a ser — nossa vocação ao cuidado mútuo, ao amor e à misericórdia, assim como Ele que cuida de cada um de nós.
As ovelhas não conseguem se guiar sozinhas. É necessário alguém para conduzi-las pelos caminhos tortuosos, pelos lugares mais acidentados e remotos. E, mesmo com todas as dificuldades da jornada, elas seguem seguras, pois têm um guia. Nossa relação com o Senhor deve ser assim: de total confiança, porque não estamos sozinhos, não somos um rebanho desgarrado. Jesus, o Deus feito homem, caminha conosco e nos conduz pelos caminhos difíceis da vida, em meio às feras e aos perigos deste mundo, para um lugar de segurança e proteção.
Jesus, o Bom Pastor, também é modelo para cada sacerdote, que recebe um povo, um rebanho para cuidar. O sacerdote deve desapegar-se de si mesmo por seu rebanho, seguindo o exemplo do Senhor, que se desapegou de si e deu sua vida pelas ovelhas.
Que nesta data possamos rezar, de modo especial, pelo Santo Padre, o Papa Leão XIV, e por todo o clero do mundo, para que permaneçam cada vez mais fiéis e atentos às necessidades do rebanho que lhes foi confiado.
Autor: Paulo de Oliveira Silva- 2° ano da Configuração