Por Vitor Gabriel:
Recordemos os tempos em que vivenciamos uma profunda inovação tecnológica, a qual ameaça a nossa existência. A mensagem do Papa Francisco sobre a importância da literatura na educação, dirigida ao povo de Deus e aos vocacionados aos ministérios ordenados, nos diz que: “a tarefa dos fiéis e dos sacerdotes é, em particular e principalmente, a de tocar o coração do homem contemporâneo, para que se comova e se abra ao anúncio do Senhor Jesus”.
É nesta missão de tocar o coração humano que podemos refletir sobre a importância do Coração na Carta Encíclica “Dilexit nos”, do Papa Francisco, que nos convida a uma reflexão profundamente poética sobre amor divino e humano do Coração de Jesus Cristo. Em tudo, Cristo demostrou o seu amor, e, como evoca São Paulo, “nada será capaz de nos separar do amor de Deus” (Rm 8, 37). A expressão deste amor se dá na amizade “Já não vos chamo servos…, mas a vós chamei-vos amigos” (Jo 15, 15). E também na incondicional Graça do Senhor, que se revela no despojamento de Deus, que, por meio da Encarnação de seu Filho, se transborda de amor pela humanidade.
O Papa nos questiona: qual o valor que a nossa sociedade superficial ou os nossos estudos antropológicos atribuem ao coração? De um lado, temos uma sociedade superficial e imediata que não atribuí a devida importância ao coração, pois despreza o sentido máximo existencial da humanidade, reduzido-o a um órgão do corpo que tem por função apenas bombear o sangue. Por outro lado, temos reflexões antropológicas que, por sua pobreza, não dão a devida dignidade ao coração por não ser uma ideia tão “clara” como, por exemplo, a razão e a liberdade.
O que compreendemos quando ouvimos dizer “coração”? Uma palavra etimológica de origem grega que tem como significado o termo “Kardia”, que se designa como a parte mais profunda do ser humano e dos demais seres vivos. Muitos são os pensadores se dedicaram a dar uma descrição a este símbolo. Homero acredita ser o coração o centro de nosso corpo, de nossa alma e de nosso espírito. O coração é, assim, como o lugar do desejo e da tomada de decisões. Já em Platão, o coração é a parte da alma que representa as emoções e a coragem. Em Santo Agostinho, o coração pode ser compreendido como o lugar de encontro com o Senhor: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousar em Ti” (Confissões, I, 1, 1).
E o que nos diz a Sagrada Escritura? Mais do que um órgão vital, o coração ele representa o centro da pessoa, onde habitam os sentimentos e intenções. Assim nos diz o Livro dos Provérbios (4, 23): “Guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”. Ou com nos recorda o Evangelista São Lucas (24, 32): “Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho?” A referida passagem narra a angustia e a inquietação do coração dos discípulos de Emaús pela presença do Senhor Ressuscitado.
O coração é igualmente o lugar da sinceridade e “quão grande é a força de seu amor” (Wilde, 2014, p. 24). Olhar para o coração de Cristo é deixar-se configurar numa civilização do amor, e somente este coração amoroso é capaz de edificar uma nova humanidade que seja consciente e convicta de que a grande chave que nos abre ao mistério do Coração de Cristo é o amor ao próximo. Nesta firme esperança de que juntos caminhamos rumo à pátria definitiva, peçamos ao Senhor que o seu Coração Divino, feito carne, nos ilumine e nos faça ver e aproximar de seu Coração, que é manso e humilde.
Referências Bibliográficas:
AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 1984.
OSCAR, Wilde. O Príncipe Feliz. São Paulo: Porto Editora, 2014.
FRANCISCO, Papa. Dilexit nos: Carta encíclica sobre o amor humano e divino do coração de Jesus. Brasília: Edições CNBB, 2024.
Autor: Vitor Gabriel Gomes de Jesus- 3° ano do discipulado.
