Hoje, dia 25 de outubro, a Igreja celebra a memória de santo Antônio de Sant’Ana Galvão, o primeiro santo brasileiro. Nele, encontramos um ilustre modelo de doação a Deus e aos irmãos. Na homilia de sua canonização, o Papa Bento XVI disse que “significativo é o exemplo de Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado”. Frei Antônio de Sant’Ana Galvão nasceu na cidade de Guaratinguetá, São Paulo, no ano de 1739. O pequeno Galvão viveu em um lar cristão inspirado pelos ensinamentos de seus pais, Isabel Leite e Antônio Galvão, aprendendo, desde pequeno, a modelar sua vida na fé, esperança e, sobretudo, caridade. O pai, querendo contribuir com a formação humana e cultural de seu filho, enviou-o, no ano de 1752, para o Colégio dos padres jesuítas em Belém.
No dia 16 de abril de 1761, fez seus votos solenes no Convento São Boaventura, na cidade de Macacu, no Estado do Rio de Janeiro. Foi por essa ocasião que acrescentou ao seu nome o “Sant’Ana” por devoção particular. Já no ano de 1770, Frei Galvão tornou-se membro da 1ª Academia Paulista de Letras, também conhecida como “Academia dos Felizes”. Conta-se, em seus escritos biográficos, que na ocasião da fundação dessa academia literária, em agosto de 1770, o franciscano teria declamado, em latim, dezesseis peças de sua autoria, todas dedicadas a Sant’Ana, além de dois hinos, uma ode, um ritmo e doze epigramas.
Dedicou boa parte de sua vida na construção do Recolhimento de Santa Teresa, atual Mosteiro da Luz, o que lhe rendeu o título de patrono da construção civil no Brasil. Aparentemente pode parecer estranho, mas o primeiro santo brasileiro gastou 28 anos de sua vida usando uma colher de pedreiro, além de planejar, no papel ou em alguma tábua a planta do Recolhimento e da Igreja da Luz, na Avenida Tiradentes em São Paulo.
Outro aspecto que desperta a curiosidade na vida de Frei Galvão são as suas famosas pílulas que, segundo o Frei Walter Hugo de Almeida, nasceram do grande amor, zelo e caridade que Frei Galvão tinha para com os doentes. Quanto às pílulas, muito procuradas, encontramos sua origem na grande devoção do Frei à Virgem Mãe Imaculada. Em um de seus devocionais conta-se que, certo dia, foi procurado por um senhor muito aflito por ter sua mulher em trabalho de parto e em risco de perder a vida. Frei Galvão escreveu em um papelzinho o versículo do Ofício da Santíssima Virgem: “Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós”. Deu-o ao homem que o levou rapidamente à sua esposa. A mulher ingeriu o papel que o Frei enrolara como uma pílula, e a criança nasceu normalmente.
Em 23 de dezembro de 1822, faleceu no Mosteiro da Luz, em São Paulo, aos 83 anos de idade. Por motivo de dois milagres atribuídos à sua intercessão e auxílio de suas pílulas, foi beatificado em 25 de outubro de 1998 pelo então Papa João Paulo II, posteriormente canonizado no dia 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento XVI, em uma celebração no Campo de Marte, em São Paulo.
Mas o que podemos aprender com a vida deste grande santo? O berço familiar de São Frei Galvão inspira-nos a valorizar ainda mais a família, que é como um pilar fundamental da sociedade, um lugar onde se transmite valores do Evangelho. Enraizados em uma boa base familiar, moldamos a nossa fé e, sobretudo, plantamos as primeiras sementes do amor a Deus.
Além do mais, a vida do santo é um verdadeiro convite vocacional e missionário. A sua dedicação em servir os fragilizados é um reflexo do Cristo, o missionário do Pai. Frequentemente temos a infelicidade de nos desanimarmos, de nos fecharmos em nós mesmos ou, até mesmo, a incapacidade em servir por causa da ociosidade. Mas a vida de Frei Galvão assemelha-se a uma lâmpada colocada num “candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz” (Lc 8,16).
Nesse contexto, diante dos males de uma desconstrução do servir e do estagnarse no comodismo, o ensinamento de Frei Galvão é como uma grande luz: orar, servir e trabalhar, superando as indiferenças que esvaziam o sentido da fé. Eis o exemplo que nos impulsiona: servir de tal modo que o amor a Jesus e ao outro compense as mãos calejadas do trabalho, pois essa era a vida de Frei Galvão.
O seu inflamado zelo e amor pela Virgem Santíssima é essencial para compreendermos o seu chamado e a sua entrega aos mais necessitados. Maria, que prontamente saiu em auxílio de sua prima, conforme nos narra a Sagrada Escritura no Evangelho de Lucas (cf. Lc 1,39), apresenta-se como modelo seguido pelo santo. Esse ato de pôr-se a caminho apressadamente fez com que Frei Galvão estivesse também prontamente disponível e disposto a doar-se aos necessitados, sempre solícito, entendendo que esse é o melhor lugar para a experiência com Cristo. Estando incapaz de atender a todos, demostrou a sua máxima fé ao elaborar as pílulas. Eis aí a inspiradora atitude e o reflexo notável de uma vida entregue ao irmão e distante da autossuficiência.
Nesse mês de outubro, a Igreja celebra o mês missionário, que lembra a cada um de nós que é missão de todo batizado testemunhar com a própria vida a alegria de ser de Cristo. Impulsionados pela vida de São Frei Galvão, que anunciou o Evangelho do amor, do acolhimento e da misericórdia para os mais sofredores, peçamos ao Senhor que possamos ser capazes de ir ao encontro dos mais necessitados, bem como de perseverarmos na disponibilidade do serviço, permanecendo fiéis à vivência da Palavra.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
SURIAN, Carmelo. Frei Galvão: um brasileiro na glória dos Santos. Petrópolis, RJ:
Vozes 1997.
FRANCISCANOS. São Frei Galvão. Disponível em: https://franciscanos.org.br/carisma/especiais/santo-antonio-de-santanagalvao#gsc.tab=0. Acesso em out. 2024.
Autor: Seminarista Douglas Roberto- 2° ano Discipulado.
